Capítulos 7 e 8

Capítulo 7


No mês de novembro os americanos comemoram o Thanksgiving, o dia em que se reúnem com familiares e amigos para agradecer por todas as coisas boas que aconteceram durante todo o ano. Como seria nosso primeiro Thanksgiving lá, e estávamos sem família, os Srs. Hanson nos convidaram para nos juntar a eles e algumas famílias amigas na festa que eles faziam no salão de eventos da igreja que freqüentavam.
Logo que entramos, fomos recebidos pelos Hanson e por alguns outros vizinhos que já conhecíamos ali do bairro. Jessica e Avery me receberam superempolgadas:
- Que bom que você veio me ver! – disse Jessica, me dando um abraço forte.
- Você veio me ver também, não veio, Mel? – Avery perguntou toda fofa puxando minha mão pra chamar minha atenção.
- Vim ver as duas! – as abracei num único abraço, rindo da felicidade delas em me ver.
As duas faziam parte de vários grupos da igreja e sempre que iam fazer alguma apresentação me chamavam para ir, mas como minha família não era muito de igreja, eu tinha uma certa resistência em ir em uma, a menos que fosse pra um casamento, e olhe lá. Então naquele dia quando eu apareci lá, elas ficaram muito surpresas e felizes e saíram me puxando uma por cada braço, quase me arrastando, pra me apresentando para suas amiguinhas e mais um milhão de pessoas que eu nem me lembro quem eram, antes do culto começar:
- Essa é a Mel, namorada do Zac. - elas diziam e eu logo me apressava em corrigi-las.
- AMIGA do Zac! – e sorria amarelo para a pessoa, sentindo meu rosto pegar fogo.
Repetimos esse diálogo incontáveis vezes, até a hora que eu respondi já sem paciência:
- Meninas, escutem uma coisa: eu NÃO sou namorada do irmão de vocês, ok? N-Ã-O sou!
- É, sim! – Avery afirmou, as duas trocando risadinhas e olhares infantis.
- Não, não sou! – a olhei indignada -De onde vocês tiraram isso?!
- Mas a gente já viu vocês na casa-da-árvore... – Jessica respondeu me lançando um olhar tão malicioso que fiquei assustada dele ter vindo de uma menina de 12 anos. A surpresa foi tanta, que o máximo que consegui falar foi um “Oi?” incrédulo.
- É! A gente já viu vocês se beijando lá! – Avery falou com seu risinho inocente, suas bochechas corando.
Nessa hora eu não sabia aonde enfiar minha cara! Quis correr dali até o Brasil naquele segundo, tamanha era a vergonha que eu estava sentindo. Não que a gente fizesse “alguma coisa”, mas a gente tomava o cuidado de nunca ficar perto da nossa família, justamente pra evitar que pensassem que éramos o que não éramos.
Para minha sorte o senhor a frente da igreja pigarreou no microfone e todos começaram a se sentar e fazer silêncio, pondo fim a essa conversa, um tanto desconfortável pra mim, pelo menos naquela hora.
O culto começou e eu me sentei entre as meninas num dos bancos na frente do pastor, exatamente onde eu não queria sentar, mas elas insistiram tanto que fiquei sem jeito de recusar. Caio e Douglas que sumiram dentro da igreja assim que Mackenzie foi encontrá-los na porta com mais alguns amiguinhos, se sentaram no mesmo banco que a gente e estavam se comportando milagrosamente como verdadeiros anjinhos.
Até então eu não havia visto nenhum rastro do Zac, nem mesmo percebera que o procurava até a hora o pastor anunciou que o grupo de louvor apresentaria algumas músicas e eu finalmente o achei “escondido” atrás da bateria, num dos cantos do altar. “O que o Zac ta fazendo ali?!” pensei, me assustando ao ouvir a resposta da Jessica, percebendo, então, que havia pensado em voz alta:
- Ele toca bateria no grupo de louvor, oras!
- Sério? Desde quando? – o observava surpresa enquanto ele se ajustava pra começar a tocar.
- Nossa... Desde SEMPRE! Você não sabia? – ela riu me olhando surpresa.
- Não! Eu sabia que ele tocava violão e cantava porque já cantou pra mim... – sorri, sentindo meu rosto corar quando me lembrei das várias noites em que ele ficou deitado do meu lado em minha cama cantando baixinho no meu ouvido e mexendo no meu cabelo até eu pegar no sono. - ...mas não fazia idéia de que ele tocava bateria na igreja!!
- Toca, sim. Aliás, piano e guitarra também, às vezes, mas na maioria das vezes quem fica no piano é o Tay e na guitarra e no violão é o Ike, quando eles estão por aqui, né? – ela girou os olhos insatisfeita, comprovando o que Zac me dissera sobre ela odiar a idéia dos irmãos mais velhos estarem indo embora de casa pra estudar e viver suas vidas.
“E eu achando que já sabia tudo sobre ele...” comentei, dando abertura para Jessica me contar muito resumidamente e em voz quase inaudível mais um milhão de coisas sobre os dons artísticos da família ao longo do culto.
Segundo ela, todos tinham algum dom e era regra da família usar esse dom para “louvar a Deus” – no caso dos Hanson, todos tinham dons artísticos, especialmente os musicais. Eu sabia que ele tinha algum envolvimento com as atividades da igreja,bem como tinha com as atividades da escola, mas não fazia idéia de que ele era do grupo de louvor da igreja, tampouco que tocava outros instrumentos além do violão que ele sempre carregava a tira-colo.
Quando a banda começou a tocar, todo mundo se levantou e cantou as músicas animadamente. Achei que ia pagar um micão por não saber as letras, mas tinha uma pessoa operando o retroprojetor exibindo letra por letra. Toda hora meus olhos encontravam os olhos brilhantes de alegria das duas irmãs do Zac que ainda pareciam não acreditar que eu estava ali entre elas.
O culto prosseguiu com o coral principal, o coral das crianças, um pequeno teatro do qual Mackenzie participou e mais um momento com a banda, antes das palavras finais, depois nos dirigimos a um salão anexo ao templo onde várias mesas estavam postas e uma mesona principal estava arrumada com comidas e bebidas que cada família tinha preparado e levado.
Fui até a mesa onde meus pais estavam sentados com os Hanson e os Burton, nossos vizinhos de porta, aos quais eu ainda não havia sido apresentada pessoalmente, e me sentei ao lado da minha mãe, sempre com Jessica na minha cola – Avery havia nos deixado pra brincar com umas amiguinhas. Assim que minha mãe me apresentou a Sra. Burton, Jessica acrescentou:
- A namorada do meu irmão! – e me olhou sorrindo, um tanto atrevida na minha opinião uma vez que eu já havia falado que não éramos namorados.
Neguei a afirmação da menina, tomando o cuidado de não ser grossa com ela na frente de todos, mas confesso que ela já estava me irritando! Prometi a mim mesma que conversaria com o Zac sobre isso assim que o encontrasse para darmos um jeito de tirar essa idéia absurda da cabeça das duas.
Quando estava ajudando minha mãe a servir pratos para meus irmãos, Zac finalmente apareceu, bem na hora que eu repreendia Jessica pela milésima vez:
- Jessica Hanson! Pára AGORA de falar por aí que eu sou namorado do ZAc, porque isso não é verdade!
- Mas fala que é só porque ELA não quer, viu, Jess? – o ouvi falar na mesma hora que senti seus braços envolverem minha cintura e seu rosto se encaixar perfeitamente no meu pescoço, onde ele deu um beijinho que me fez arrepiar.
- Zac! – o repreendi também – Dá pra me ajudar aqui? – lancei um olhar pra Jessica que nos olhava com um sorriso maior que seu rosto.
- Tô brincando! Jess, nós Já não conversamos sobre isso? Eu e a Mel somos amigos e nada mais...– ele a olhou bem sério, mas de um jeito muito fofo, Jessica concordou com ele sem falar nenhuma palavra, mas estava visivelmente decepcionada.
Dei todo o apoio a Zac que agora estava do meu lado, os braços cruzados sobre o peito ainda mantendo a pose de “irmão mais velho dando esporro”. Mas Jessica era tão teimosa e insistente quanto o irmão:
- Mas eu acho que vocês são namorados!... – ela cantarolou e saiu depois que Zac “sugeriu” que ela fosse brincar em outro lugar.
- Essas crianças... – ele falou parecendo um velho, observando a irmã sumir na multidão, depois se virou pra mim – E aí, ta gostando... ?
- Zac! Elas espalharam pra todo mundo que nós somos namorados!! – me referi as irmãs dele, soando mais desesperada do que pretendia.
- Ah, tudo bem... – ele riu.
- Como assim “tudo bem”? você ouviu o que eu falei: suas irmãs me apresentaram pra todo mundo como “a namorada do Zac”!
- Nossa! E pelo visto falar isso tem o mesmo peso de falar que você é leprosa, né? – ele falou num tom afetado.
- Não é isso, né? – comecei a falar mas ele me interrompeu.
- Então é o quê? – ele cruzou os braços no peito, me encarando sério esperando minha explicação.
Por algum motivo o jeito como ele me olhava naquele momento fez minha voz fraquejar.
- Ah... É que elas estão espalhando uma mentira...
- Será? – ele levantou uma sobrancelha e deu um sorriso torto.
O fitei confusa. “O que ele quis dizer com isso?” Não precisei falar pra ouvir uma resposta.
- Será mesmo que não estamos namorando? – ele perguntou.
- Ah... Estamos? – indaguei ainda confusa.
- Estamos? – ele perguntou de volta, abrindo um super sorrindo – Só depende de você! – deu uma piscadinha.
Abri minha boca pra falar alguma coisa, mas nada saiu. Não consegui pensar numa resposta, não consegui sequer processar a pergunta.
- Pode pensar um pouco, se precisar... – ele falou depois de ver minha reação de surpresa.
Dois rapazes se aproximaram o chamando de “Prozac”, seu apelido de infância, e fazendo a maior festa, o cumprimentando com um abraço forte que ele retribuiu da mesma forma. Aproveitei a deixa pra ir até nossa mesa levar o prato que havia feito pro Cacá que veio me encontrar todo impaciente.
Quando tava chegando perto da mesa já, o ouvi me chamar:
- Mel? – quando me virei, ele fez sinal com a mão pra que eu fosse até eles.
Pedi pra ele aguardar com um gesto, entreguei o prato a Cacá e fui até eles. Os três me olhavam sorridentes, Zac mais que os outros dois. Ao me aproximar reconheci os rostos que já havia visto em inúmeras fotos na casa dos Hanson: eles eram Isaac e Taylor, os irmãos mais velhos de Zac.
- Mel, quero te apresentar meus irmãos Ike e Tay. – Zac disse, passando um de seus braços pela minha cintura quando me aproximei dele.
- Oi, prazer! – falei um tanto tímida, cumprimentando-os com um sorriso, ambos me cumprimentando de volta muito simpáticos.
- Então você é a famosa Mel de que Zac tanto fala! – Taylor falou, me fazendo corar.
Foi aí que entendi porque as meninas da escola falavam tanto do tal Taylor Hanson: ele tinha um rosto quase angelical, com uma pele de porcelana contrastando com lindos olhos bem azuis e lábios bem mais finos que os do Zac, porém tão atraentes quanto os dele. E tinha um charme! Um jeito de falar e olhar... Me lembravam o Zac, apesar de eles serem muito diferentes fisicamente – nem pareciam irmãos. “Deus, esses irmãos são um perigo!”
Isaac já não tinha muita beleza, nem tanto charme, mas quando ele se dirigiu a mim, achei que fosse derreter com sua voz penetrante e sexy. E ele era muito simpático e tão engraçado quanto Zac, apesar da sua pose de “irmão mais velho”.
Fiquei boa parte da noite conversando com eles, especialmente com Taylor que havia acabado de chegar de um mochilão pela América Latina e quis arriscar um português-espanholado comigo.
Eu já achava Zac um molecão meio maluco que ficava ligado na tomada o tempo todo, mas naquela noite e durante os quase vinte dias que seus irmãos estavam em casa, ele ficou bem pior, porque os outros dois eram assim também. Era engraçado vê-los juntos, eles se caçoavam e caçoavam dos outros amigos que se uniram a gente, relembrando situações engraçadas e constrangedoras do passado.


~*~*~


Apesar de eu ter me distraído e divertido bastante naquela noite, não foi o bastante pra eu me desligar daquele pedido de namoro meio sem jeito que Zac me fizera mais cedo naquela noite. Eu não tinha aceitado, mas também não tinha não aceitado, eu simplesmente havia ficado sem reação porque não esperava ouvir aquilo naquela hora. Aliás, eu não esperava receber esse pedido nunca, justamente porque tinha medo de não conseguir recusá-lo...
Na volta pra casa, como a igreja ficava a poucas quadras da nossa rua, Zac me convidou pra ir andando com ele “pra gente conversar”, ele falou, fazendo meu coração galopar dentro do meu peito “Ai meu Deus, é agora!” pensei.
Começamos a caminhar em silêncio, curtindo a noite bonita e agradável que nos cercava. Um ventinho frio, pressagio do inverno que se aproximava, soprava em nossos rostos, deixando nossas bochechas rosadas e os lábios mais vermelhos, e bagunçando de leve nossos cabelos.
- E aí, gostou da festa? – ele puxou assunto.
- Gostei! Sempre quis participar de um “Thanksgiving”... – respondi.
Ficamos em silencio mais um tempo. Apesar de não ter olhado para ele, senti seu olhar em mim. Percebi que ele não estava mais do meu lado, estava alguns passos atrás de mim e caminhava lentamente.
- O que foi, Zac? – perguntei, ainda sem olhá-lo, porém reduzindo a velocidade.
Os passos dele pararam. Eu parei mais a frente, esperando ele continuar andando, mas seus passos não continuaram. Hesitante um pouco, depois me virei, achei que ele ainda estava no lugar onde parara, mas ele já estava bem perto de mim novamente.
Nossos olhos se encontraram depois de darem muitas voltas ao redor. Os olhos dele brilhavam, enquanto seu olhar penetrava o meu. Ele mordia os lábios carnudos, mas sua intenção naquele momento não era me provocar como em outras ocasiões, ele só estava muito nervoso.
A gente tinha uma facilidade muito grande pra saber o que o outro pensava, sentia ou queria dizer só de olhar nos olhos e estudar as expressões; naquele momento não foi diferente: só de olhar pra ele, ele não precisou falar nada, mas eu já sabia exatamente o que ele estava tomando coragem de dizer.
- Eu também, Zac... – falei, segurando suas mãos e lhe dando um selinho – ...te acho muito especial e estou muito feliz de te ter na minha vida, mas...
Ele fez “shiii” com o dedo indicador nos meus lábios, me interrompendo.
- Não fala nada... – ele falou bem baixinho, colocando meus cabelos atrás das minhas orelhas e aproximando seus lábios dos meus, me beijando.
Nós já tínhamos nos beijado várias vezes, em vários momentos diferentes, mas cada beijo era como se fosse aquele primeiro beijo que a gente espera ansiosamente pra acontecer quando somos crianças e sonhamos com nossos príncipes encantados. E aquele beijo não foi diferente: me senti quase levitar até uma outra dimensão. Era uma sensação surreal de tão boa.
- Zac, eu... – comecei a falar quando demos uma pausa no beijo, mas ele me interrompeu:
- Não quero te pressionar, Mel, mas eu preciso te falar o que eu sinto...
Eu sabia o que ele sentia. Eu sentia o que ele sentia em todos os sentidos que essa frase poderia ter, mas não queria ouvi-lo falar porque não queria assumir meus próprios sentimentos pra mim mesma. Era quase fisicamente doloroso saber que por mais que eu o amasse e fosse correspondida, não ficaríamos juntos por muito tempo.
- Zac... – outra tentativa interrompida, dessa vez por outro “shii” seguido do dedo indicador tocando meus lábios de novo:
- Só eu falo agora, ok? – ele sorriu, tirando o dedo de meus lábios assim que confirmei com a cabeça – Eu sei o que você pensa sobre nós dois, sei que acha que não devíamos nos envolver muito para evitarmos sofrimentos futuros, mas também sei que aqui no fundo... – ele colocou uma mão no meu peito –... você quer tanto quanto eu, deixar essa estória de “ficar sem compromisso” de lado e passar a ficar COM compromisso, ficar como NAMORADOS...
Era inegável o quanto ele estava certo e incrível a nossa sintonia. Eu sempre soube que ele sabia disso, só não tinha coragem pra assumir. Ele prosseguiu:
- Eu sei que você tem medo da gente sofrer quando você for embora, mas você não acha que já está sofrendo demais por antecipação? Quer dizer, se você não está... eu estou. – ele falou num tom tão sinceramente sofrido que meu coração partiu – Eu sofro porque você não quer dar uma chance a nós dois, mesmo sabendo que nós temos tudo pra dar certo, pra sermos felizes por pelo menos mais um ano e meio... Sofro ainda mais quando penso que mesmo você sabendo que tem grandes chances de você acabar ficando aqui por muito mais tempo que isso, você ainda assim prefere permanecer na sua zona de conforto, não nos dando a chance que merecemos ter de viver algo especial e inesquecível...
Eu já estava quase chorando, meus olhos ardiam prontos pra expulsar as primeiras lágrimas, os desviei dos olhos do Zac pra que isso não acontecesse. Os olhos de Zac, sempre muito brilhantes de excitação e felicidade, tinham um brilho diferente agora, meio triste e grave, que me deram a sensação de que ele também estava segurando as lágrimas.
- O que eu sinto por voe é muito especial e intenso, Mel. Eu nunca senti isso por ninguém antes. Eu me sinto completo e feliz quando você está por perto, esqueço tudo de ruim! E quando você está longe, fica um vazio no peito...
Eu sabia exatamente do que ele tava falando. Era como se ele estivesse ME descrevendo ao invés de a si mesmo.
- Eu sei que você ta tentando se resguardar de viver algo ruim que viveu no passado e está me poupando de me fazer passar pelo que outros rapazes já passaram, mas eu quero que você saiba que eu estou disposto a passar por qualquer coisa no futuro, desde que você aceite viver comigo o presente.
Aquelas palavras foram demais pra mim, as lágrimas que eu prendera com tanta firmeza até então, começaram a rolar por minha face. Zac as enxugou com as costas dos dedos indicadores:
- Espero que sejam lagrimas de felicidade... – ele riu com expressão de incerteza no rosto.
- São, sim! – sorri – Sou uma boba, mesmo, choro por qualquer coisa! – passei as mãos no rosto me recompondo.
- Então, você está disposta a esquecer do futuro enquanto curtimos nosso presente juntos? – ele perguntou cheio de esperança.
Eu não tinha mais o que pensar, tinha? Já estava fazendo isso há meses, desde que começamos a ficar e senti que um sentimento muito além da amizade crescia entre nós. Ainda existia um medinho do futuro? Sim, ele estava ali e talvez jamais fosse embora, mas era fraco demais perto do sentimento que me dominava.
- Sim. – respondi sorrindo, ele sorrindo de volta.
Nos beijamos e sem dúvida alguma foi o melhor beijo de todos que já havíamos tido até então. Esse era o beijo oficial, o beijo que selou o início do nosso namoro, o beijo que abriu com chave de ouro a melhor parte da minha vida!



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Capítulo 8

Quando meu pai chegou em casa com a notícia de que mudaríamos para Tulsa, fui a primeira a protestar:
- Não quero morar nessa cidade que ninguém conhece, que fica num estado que ninguém nunca ouviu falar! – dizia, totalmente contra a idéia.
Tentei inúmeras vezes convencer meus pais de me deixar no Brasil com algum dos meus tios ou com meus avós, até mãe de amigos meus eu joguei na roda, mas nada convenceu meus pais de me deixar pra trás. Porém eles resolveram fazer um acordo comigo:
- Vamos, dê uma chance pra cidadezinha desconhecida no meio do nada! Se em um ano você não ainda quiser voltar, deixo você voltar pra terminar o Ensino Médio aqui. – disse meu pai e selamos nosso acordo com um aperto de mão cuspido.
Nos meus últimos meses no Brasil e nos primeiros dias em Tulsa, todas as vezes que conversava com meus amigos e familiares ou via (e revia) o livro de recordações que montei pra levar comigo meus melhores momentos com eles, eu chorava bastante. Mas a medida que fui me enturmando passei a não sentir tanto as diferenças culturais e consegui controlar a saudade.
Quando contei pros meus pais sobre meu namoro com Zac, a primeira coisa que minha mãe falou foi:
- Então já podemos rasgar nosso contrato de um ano em Tulsa, né? – ela gargalhou.
- Sim, podemos! – respondi rindo dareação exagerada dela. – Alias, acho que poderíamos rever o contrato do Mestrado também, né, pai?
O plano inicial era ficarmos lá por dois, que era o tempo que meu pai levaria para concluir seu Mestrado, mas havia sim a possibilidade de ficarmos mais tempo porque ele estava estudando a possibilidade de já aproveitar e fazer o Doutorado lá também, o que seria muito interessante pra mim que acontecesse pois assim poderia adiar a separação inevitável por mais um tempo.
Zac também estava muito esperançoso de que meu pai conseguisse fazer o Doutorado lá, mas caso não conseguisse, ele já tinha bolado um plano mirabolante:
- A gente se casa. Muito simples. – ele se virou pra mim tão repentinamente que me assustei.
- Nossa, suuuper simples casar aos 16! – zombei, passando a mão no cabelo dele o bagunçando mais do que já estava.
- Até lá já teremos 18 ou 19... – ele segurou minha mão com uma mão e bagunçou meus cabelos co ma outra.
- Ah, claro! Porque com 16 nossos pais não autorizariam nosso casamento, mas com 18 tuuudo mudaria radicalmente né? – tive que gargalhar.
- Muda muita coisa sim senhora! Com 18 anos já terei trabalhado 2 verões seguidos, terei juntado um dinheirinho... E além do mais ano que vem posso arranjar um emprego fixo...
- Você ta MESMO cogitando a possibilidade da gente se casar? – o interrompi, começando a duvidar da sanidade mental dele.
Antes que ele pudesse responder eu acrescentei:
- Qual era mesmo o lema que criamos pra gente? – perguntei sorrindo.
- “Viver o presente, sem tentar adivinhar o futuro”... – ele recitou.
- Então, o que você acha de viver o presente aqui, agora, me dando um beijo bem gostoso, e parar de adivinhar o futuro, heim? – sorri maliciosa, o puxando pra mais perto pela gola da camisa.
Ele só riu e reagiu ao puxão em sua gola me abraçando pela cintura e me beijando com vontade, enquanto eu enlaçava seu pescoço e me entregava aquele beijo.
- A-Aham! – ouvimos alguém raspar a garganta alto logo atrás de nós
- Boa noite Sr. Barcellos!. – Zac cumprimentou meu pai que estava parado no parapeito da porta.
Tanto eu quanto ele concordávamos em uma coisa: beijar de língua perto da família era desconcertante. Ainda mais na frente dos pais!
- Boa noite, Zac... – ele nos olhava sério, mas não nervoso – Já deu a hora combina viu, gente? Amanhã vocês têm aula cedo e terão o dia todo pra namorar bastante!
- Pai! – ri do jeito como ele falou, corando de leve.
Zac então se despediu da gente, depois foi até a escada e deu um “Tchau!” para minha mãe e irmãos que estava lá encima. O acompanhei até a porta:
- Mais tarde eu volto. – ele cochichou em meu ouvido enquanto me dava um abraço apertado e um beijo em meu pescoço.
- Ok... – concordei também num sussurro.

~*~*~

Desde a época que nem ficávamos ainda, Zac e eu tínhamos o costume de ficar sentados no
telhado em frente a minha janela conversando e contando estrelas durante a noite após o horário que nossos pais nos mandavam ir dormir, sempre que o sono ia embora. Depois que começamos a namorar, essas visitas ficaram mais freqüentes e demoradas, e obviamente não só conversávamos.
-Entra, ta frio aí.. – sussurrei fazendo sinal para ele entrar no quarto assim que ele apareceu do lado de fora da janela.
- Tem... certeza? – ele hesitou, olhando em direção a porta que estava fechada.
- Sim, ta todo mundo dormindo já... – ofereci uma mão para o ajudar a entrar.
Ele entrou e me deu um abraço e um beijinho na testa.
- Fecha essa janela, ta entrando frio aqui! Tô toda arrepiada! – estremeci de leve, esfregando meus braços.
- Percebi... – ele lançou um olhar malicioso em direção aos meus seios, que se arrepiaram com o breve contato com a brisa fria, ficando visíveis através do tecido da camisola.
- Zac! – corei de vergonha, cruzando os braços sobre os seios, escondendo-os.
- Desculpa, mas não deu pra evitar!... – ele riu, ainda olhando em direção aos meus seios, agora escondidos, me deixando ainda mais sem graça.
- Pára com isso, seu tarado! – dei-lhe um murro no peito, rindo e o fazendo rir ainda mais.
- Ouch! – ele reclamou do soco, esfregando o peito e rindo – Se vai me bater todas as vezes que eu olhar pros seus peitos, vou ter que andar de armadura!
Desde aquele incidente constrangedor do Dia das Bruxas ele nunca mais havia me visto nua ou seminua, nem mesmo tocava no assunto, conforme havíamos combinado, mas eu já o havia pegado olhando em direção aos meus seios diversas vezes, em especial na natação quando me via de maiô o tempo todo ou quando eu usava alguma blusa que deixava meu colo a mostra ou destacava meus seios avantajados.
- Ai, cala a boca! – fiz que ia dar outro soco, mas ele segurou minha mão num movimento rápido e me puxou pra mais perto, me abraçando pela cintura com a outra mão.
- Você não precisa ter vergonha de mim... – ele falou baixinho, me olhando nos olhos.
- Claro que preciso!... – protestei num tom de indignação.
- Por quê? – ele cruzou os braços sobre o peito, me encarando com ar de investigador.
- Ah! Sei lá!... – desviei os olhos, sentindo as maçãs do meu rosto corarem.
- Você tem vergonha de quê, Mel? Eu já te vi sem roupa uma vez e preciso dizer que gostei muito do que vi! Tanto que... – ele puxou o decote da minha camisola devagar com o dedo indicador e espiou lá dentro.
- Zac, pára com isso! – dei-lhe um tapa na mão por reflexo, tentando me afastar, mas ele ainda estava segurando minha cintura com firmeza.
- Ouch! Que violência! – ele riu recolhendo a mão com carinha de dor.
- Machucou? Desculpa... – ri da carinha dele, peguei sua mão e dei um beijinho - Sarou?
- Não sei... acho que perdi os movimentos da mão pra sempre! – ele dramatizou examinando a mão – Preciso testá-la... – ele parou, pensando, depois investiu em meu decote novamente.
- Zac, seu tarado, pára com isso! – eu ri, o empurrando, mas como ele ainda me segurava pela cintura e era mais forte que eu, meu esforço todo não fez nem cócegas nele.
- Ah, vai... deixa eu ver de novo... Preciso refrescar minha memória... – ele jogava charminho, ameaçando espiar meu decote de novo.
- Zac, pára! – eu tentava falar sério, mas não conseguia parar de rir da cara de menino de rua pedindo esmola que ele fazia.
- Ah, vai! Por favor? – ele tentou de novo, agora nós praticamente travávamos uma guerra de mãos.
- Não, seu teimoso! Pára com isso! – das tentativas de espiar meu decote, ele pulou pro ataque de cócegas, como sempre fazia quando queria me vencer pelo cansaço.
Não tinha como não rir dele e com ele, ele era muito engraçado, mesmo quando me deixava fora do sério ou me matava de vergonha, como naquela hora, ou me irritava com seus ataques de cócegas.
Eu já me sentia fraca de tanto rir e correr dele, sempre com muita cautela pra não acordar ninguém da casa pois meus pais não iriam gostar nem um pouco de saber que Zac estava no meu quarto em plena madrugada.
- Chega, por favor! – pedi quase implorando, mantendo uma almofada nas mãos para o caso dele tentar atacar novamente eu ter com o que contra-atacar.
- Vamos fazer uma troca? – ele sugeriu fazendo cara de santo, mas eu tinha certeza que boa coisa não era.
- Eu já sei o que você vai pedir e já te adianto que a resposta é NÃO! – dei uma almofadada nele e corri d novo, ele vindo atrás, me encurralando num canto do quarto, uma mão de cada lado da minha cabeça.
- Te peguei! – ele sorriu malicioso.
- E agora? Vai abrir minha camisola a força? – debochei.
- Poderia... – ele provocou em resposta – Mas não preciso.
O olhei com uma sobrancelha levantada. Ele também levantou uma sobrancelha, depois desceu seus olhos devoradores até meu colo, eu segui seu olhar
- Ah, droga! – praguejei ajeitando dois botões que haviam desabotoado e deixavam parte do s meus seios a mostra.
- Viu só, e nem precisei me esforçar tanto! – ele se gabou, todo orgulhoso de sua “vitória”.
- Ai, que idiota! – corei de vergonha e ódio ao mesmo tempo, mas não consegui evitar rir junto com ele da situação – Você é um chato mesmo, né?
- Um chato que você não resiste, né? – ele se aproximou me prendendo na parede novamente, com seus lábios bem próximos aos meus, mas sem tocá-los.
Seu hálito refrescante de pasta de dente me entorpeceu. Tentei beijá-lo mas ele afastou o rosto.
- Você não está merecendo! – ele falou, birrento.
- Ah! Que injusto! – protestei chocada.
- Injusta é você me provocando ficando pelada no meu quarto, agora usando essa camisolinha decotada e transparente!... – ele alterou um pouco a voz,rindo, logo a abaixando quando fiz “Shiii” pra ele.
- Eu te provoco?! Você que é tarado e ficou me espiando trocar de roupa, agora fica aí querendo arrancar minha camisola com o olhar! – o zuei, rindo.
- Nossa! Queria mesmo! – ele riu safadinho.
- Quem sabe uma hora você não consegue?... – provoquei, o abraçando pelo pescoço, lhe roubando um beijo.
- Esperarei ansiosamente... – ele acariciou minha cintura e subiu as mãos até as laterais dos meus seios, por cima da camisola como sempre, seu toque me fazendo arrepiar e respirar mais profundamente.
- Gosta disso? – ele perguntou, repetindo o movimento, agora suas mãos deslizaram das laterais para a parte de baixo de meus seios, respondi afirmativamente com a cabeça, sentindo meu corpo reagir àquele toque tão delicado e gostoso.
- Quer que eu continue? – ele perguntou delicadamente, olhando meu rosto, eu estava de olhos fechados, só sentindo seu carinho.
- Sim... - Respondi quase sem fôlego já.
Zac então contornou meus seios com as mãos, depois os segurou com firmeza, os massageando de leve, tudo por cima da camisola, enquanto beijava meu pescoço, dando sugadas e mordidinhas, me fazendo estremecer e gemer, meu corpo todo se arrepiando.
Eu já havia ficado com vários garotos e sentira muitas sensações boas em cada ficada, mas nada se comparava ao que eu sentia quando ficava com Zac. Talvez fosse porque ele era bom no que fazia, chegando até a me fazer duvidar de sua virgindade e inexperiência, ou talvez fosse o simples fato de que com ele eu me sentia mais segura e a vontade e estava me permitindo fazer e sentir coisas que antes julgava serem erradas de se fazer com um ficante ou com um namorado de pouco tempo.
Ele despertava em mim sensações e desejos que nenhum outro rapaz despertara antes. Eu gostava dos nossos momentos à sós, pois era quando tínhamos total liberdade para explorar nossa intimidade, mesmo não fazendo nada demais – ainda nos contentávamos com as preliminares. Nós gostávamos de joguinhos de provocação, um excitando e provocando o outro com um toque ou um beijo num lugar mais sensível, mas nunca havíamos passado muito disso. Para dois adolescentes no auge da explosão hormonal nós éramos até muito controlados. Talvez pela inexperiência, pelo medo de fazer algo errado. Ou pela timidez que sentíamos, mesmo o Zac que era mestre em deixar os outros sem graça, ficava incrivelmente sem jeito quando não conseguia controlar as reações de seu próprio corpo.
Zac continuou acariciando meus seios por sobre a camisola, brincando com meus mamilos eriçados, descendo seus beijos para meu colo. Àquela altura, eu já não tinha forçar para impedi-lo de prosseguir e nem queria fazê-lo, simplesmente desabotoei os botões da camisola e a deixei cair, exibindo meu corpo só de calçinha e o deixei continuar o que já havia começado. Ele tirou seu moletom e sua calça, ficando só de cueca, e me guiou até minha cama onde me deitou e projetou seu corpo sobre o meu, beijando cada parte do meu corpo, me deixando muito excitada.
Antes daquele momento eu imaginava que minha primeira vez seria bem diferente, com outra pessoa, em outro local... Tudo diferente. Jamais imaginei perder minha virgindade com um namorado de poucos meses, tão inexperiente quanto eu, e muito menos na minha cama, sob o mesmo teto em que meus pais e irmãos dormiam nos quartos ao lado. Todas essas idéias eram totalmente surreais pra mim até aquele momento, onde tudo isso estava prestes a acontecer, contrariando todos os meus planos para aquele momento.
Mas eu não ligava pra nada naquela hora, aliás, sequer estava pensando nisso. Estava tão envolvida naquele momento, tão fora de mim que não tinha noção da realidade mais. Eu estava vivendo um de meus vários sonhos com o Zac, com a diferença de que eu não acordaria na melhor parte.
Zac parou os carinhos de repente e se afastou um pouco me olhando com admiração e um pouco de incerteza, acariciando meus cabelos e rosto enquanto falava:
- Você é muito especial pra mim, Mel... – me deu um beijinho suave nos lábios – Jamais te magoarei ou farei algo que você não queira...
Eu sabia o que ele estava querendo dizer, mas estava sem jeito de falar as claras. Talvez se eu tivesse lhe dado mais alguns minutos, ele até chegasse lá, mas eu não agüentei esperar:
- Você não está fazendo nada que eu não queira que faça, nem eu estou sendo obrigada a nada... – senti que minha voz ofegava - Esse momento é muito especial pra mim e quero compartilhá-lo com a pessoa mais especial da minha vida, que é você! – o olhei com expectativa, esperando alguma palavra, mas ao invés disso, a resposta veio em forma de um beijo mega ardente, como eu jamais havia recebido nem dado antes.
Voltamos as preliminares, dessa vez eu projetei meu corpo sobre o dele, dando beijos em seu pescoço, peito e abdome, sua respiração ofegante mostrando o quanto ele estava excitado. Dei umas mordidinhas de leve próximo ao seu umbigo, o fazendo gemer um gemido mal contido. Eu estava sentada na direção de seu quadril onde podia sentir seu pênis enrijecer entre minhas pernas, mesmo ainda estando dentro da cueca, como se ele estivesse sendo atraído por um imã em minha vagina.
A medida que descia os beijos e mordiscadas por sua barriga, ia tirando sua cueca. Quase dei pra trás quando vi o que me esperava ali. Ele riu da minha reação automática e eu ri também de nervoso, primeiramente, depois de vergonha por ter sido tão indiscreta. Invertemos a posição de novo, ele tirou minha calçinha enquanto beijava meu ventre e depois minha vagina já molhada.
Ele se posicionou e tentou encaixar seu pênis em mim, mas não conseguiu achar a posição certa, causando dor, frustração e constrangimento para ambos, mas não teve como não rir da nossa falta de jeito. Tentamos mais algumas vezes, o calor do momento nos impossibilitava de desistir, até que conseguimos nos encaixar e tivemos nossa primeira relação sexual.
Foi uma experiência nova, incrível, inesquecível e única. Tiveram os contratempos normais a que uma “primeira vez” está vulnerável a ter, mas apesar disso a felicidade por termos tido nossa primeira transa com a pessoa que amávamos superou qualquer possível frustração daquela noite.