Capítulos 5 e 6

Capítulo 5


No dia seguinte a gente não comentou nada sobre o que rolou entre nós na barraca, somente que eu tive que dormir lá porque Akemi tinha me expulsado da barraca pra dormir com um carinha do outro acampamento.
Eu não sabia qual o motivo exato de manter segredo sobre isso, logo minha cabeça começou a trabalhar em suposições mirabolantes “Será que ele estava tão bêbado que não lembra que ficamos igual aconteceu comigo aquele dia? Ou será que sou EU quem não me lembro DE NOVO?! Deus! Tô ficando preocupada já! Preciso parar de beber!!” Por via das dúvidas, preferi não me arriscar a pagar outro mico daqueles “Bom, se rolou mesmo ou não, morrerei sem saber, a menos que ele comente algo! Eu vou ficar quietinha, na minha...”
- Vocês não ficaram nem um pouquinho? – Britt perguntou enquanto fazíamos trilha.
- Não, Britt. – respondi o mais segura de minha resposta possível, rindo da cara de decepção dela e de Suzy.
- Mas como?! – Suzy não se conformava.
- Não ficando, oras! – senti uma pontinha de irritação brotar – Será possível que vocês acham tão impossível mesmo duas pessoas do sexo oposto serem SÓ amigos?
- Ah, não é que seja impossível... – Britt parecia pensar em argumentos que comprovassem que ela não achava isso impossível, mas aparentemente não encontrou nenhum.
- Mas é quase! – Suzy, eterna defensora da tese de que “toda amizade entre pessoas do sexo oposto tem um pouco de interesse ‘carnal’”, protestou.
- Pois eu acho sim que homens e mulheres podem ser só amigos e é isso que eu e o Zac somos: SÓ AMIGOS! Nada mais! – falei por fim.
Continuamos nossa trilha sem dar mais nenhum pio sobre esse assunto nem durante o resto do acampamento nem nos dias que se seguiram. Uma coisa que eu achava bacana no pessoal de Tulsa era que quando falavas ou insinuava que não queria mais falar sobre determinado assunto, eles respeitavam e nunca mais falavam nada, a não ser que eu falasse primeiro.


~*~*~


Na segunda e última noite de acampamento, a noite estava super propícia para nos reunirmos outra vez em volta da fogueira pra comer, beber, cantar e contar histórias de terror, o que foi exatamente o que aconteceu.
Como na outra noite, os meninos se sentaram de um lado da roda e as meninas do lado oposto. Na primeira noite achei que fosse coincidência, mas ao ver que isso se repetiu na segunda noite, minha ficha caiu de que sempre havia essa divisão meninos de um lado e meninas do outro, a menos que tivessem casais no meio da roda – nesse caso os casais geralmente sentavam na “fronteira” dos dois sexos.
Achei isso muito engraçado e diferente do que era acostumada a ver: todo mundo junto, menino e menina, de todas as idades, abraçados, sentados ou deitados um no colo do outro... Essas coisas super comuns de se fazer entre amigos no Brasil, lá era dificil de se ver. Vez ou outra via-se amigos se abraçando, mas só se fosse muito amigo MESMO! Em tulsa as pessoas eram meio tímidas, um pouco fechadas e ainda tinham um “quê” de conservadoras.
Então estávamos sentadas Suzy, eu e Britt no meio de outras meninas do acampamento de um lado da fogueira e Zac, os gêmeos e outros rapazes do acampamento do outro lado. Akemi e o rapaz com que ela estava ficando e outros dois casais estavam sentados nos espaços vazios entre o grupo dos meninos e o das meninas.
- Ó lá! Depois você fala que vocês são só amigos sem nenhum interesse a mais de nenhuma das partes! –Suzy comentou com um sorrisinho maldoso no rosto, olhando em direção aos meninos - Vê se amigo fica secando o outro desse jeito?!
- Hum! Quem ta olhando pra quem? – indaguei, certa de que Suzy fez a mesma pergunta mentalmente.
As duas me encararam na mesma hora; não precisaram falar nada, os olhares disseram tudo: elas falavam de mim e do Zac.
O observei todo animado cantando e tocando violão. A atenção de todo mundo da roda estava voltada pra ele, mas a dele estava totalmente voltada pra mim. Ele me olhava fixamente quando meus olhos encontraram o dele e ele os desviou, se desconcentrando por um minuto errando a letra de uma música. O pessoal deu uma zuadinha, ele sorriu e me olhou novamente, dando uma piscadinha.
Se eu tivesse ingerido uma gota de álcool aquele dia, ficaria super em dúvida se a piscadinha aconteceu mesmo ou não, mas como havia prometido – e estava cumprindo e estava muito feliz por isso!-, naquele dia eu estava 100% sóbria, justamente porque não queria que minha memória, nem visão nem nada nem ninguém pregasse qualquer peça em mim; queria ouvir, ver e sentir tudo e ter certeza pra distinguir o que era real do que o que era sonho/imaginação.
- Ele piscou pra você! – Britt exclamou num cochicho mal feito.
- E sorriu também que eu vi! – Suzy deu apoio a amiga, as duas trocando olhares e risinhos irritantes.
- Ai ai vocês duas... – revirei os olhos e desconversei: - Querem alguma coisa? Vou ao banheiro... – me levantei.
- Trás mais cerveja! – ouvi Suzy gritar quando me afastava.
“Acho que vocês já beberam demais por hoje!...” ri sozinha indo pro banheiro.
No caminho de volta vi Akemi e o ruivinho da noite anterior se afastando aos risos e tropeços em direção as barracas. “Lá vão eles de novo..” pensei ao mesmo tempo que ouvi aquela voz meio rouquinha inconfundível falar atrás de mim:
- É... Pelo visto você vai ficar sem barraca hoje de novo!...
Veio um flash na minha cabeça de uma aproximação sorrateira parecida com essa que fez meu coração dar um salto e arrepiou meus cabelinhos da nuca na noite anterior, mas eu ainda não estava certa se isso havia acontecido de fato ou se não passara de um sonho muito bom e realístico, daqueles que te deixa até envergonhada quando você vê a pessoa com quem sonhou mesmo tendo certeza de que ela não faz idéia do que se passa na sua cabeça.
- Pois é... – respondi sem olhá-lo. Tive que me concentrar para não demonstrar qualquer sinal do nervosismo que ele estava me causando.
Fiquei bastante surpresa com aquela reação minha. “Reação de quem ta apaixonada” conclui muito decepcionada comigo mesma. “Bom trabalho, Mel! Dois anos se matando pra não se apaixonar por ninguém do seu próprio país, sabendo que tinha chances de rever a pessoa um dia, agora se apaixona por um cara de outro país que você nunca mais verá na vida depois que for embora. Muito bom isso!” Tive vontade de dar um soco na minha própria cara naquela hora.
- Então... – ele começou a falar, parecendo desconcertado, o que não era muito comum em se tratando de Zac Hanson.
Me virei para olhar se estava tudo bem com ele, ele parecia... diferente. Havia uma tensão no ar...
- Aquela vaguinha ainda está sobrando? – sorri tentando descontrair, me arrependo logo em seguida, me sentindo uma completa idiota.
- Claro! – ele respondeu pronta e entusiasmadamente, um sorriso brilhante no rosto. – Claro que ta, Mel! Você tem lugar garantido na minha área VIP!
Claro que era mais uma piadinha pra deixar as pessoas sem graça típica dele, mas engasgar com o refrigerante não estava nos meus planos para aquela noite.
Meu “Droga!” se entrelaçou ao “Desculpa!” dele.
- Não, tudo bem. – falei, segurando o riso.
Era um riso confuso porque achei mesmo graça da piada, mas os pensamentos que ela instalou na minha mente não tiveram graça alguma principalmente porque tenho certeza que fiquei até roxa de tão vermelha de vergonha e se eu bem conhecia o Zac ele sacou tudo isso. Além do que, essa cena em si me lembrou filme de comédia romântica. Ele também estava rindo quando o olhei de relance.
Alguém gritou “Cadê minha cerveja?”, ao olhar em direção a rodinha, vi Suzy erguendo uma long neck de cabeça pra baixo com uma das mão e indicando-a seca com o dedo indicador.
- Eh... Vou lá, então... – falei me virando pra ir até o isopor – Te vejo mais tarde... na sua área VIP! – sorri e dei uma piscadinha pra ele e me afastei.


~*~*~


No trajeto da minha barraca onde fui buscar minhas coisas até a barraca do Zac eu me peguei ajeitando minha roupa e cabelo diversas vezes, como se estivesse indo a um encontro. “Encontro com meus sonhos, isso sim!” pensei.
Aquela noite não estava tão fria, apenas fresca, o que não era legal porque queria dizer que não teria necessidade de dormirmos juntos. “Mas pelo menos estaremos na mesma barraca, talvez role um clima na vida real dessa vez... Não, Mel! Para com isso! Não vai nem pode rolar nada porque vocês são só amigos e se a noite passada tivesse sido boa de verdade, ele teria feito algum comentário com certeza!”
Já estava me convencendo de que não rolaria nada, ninguém se apaixonaria, nem se machucaria, nem sofreria... Tudo estava de volta a sua devida órbita, quando um golpe baixo me foi dado: Zac me recebeu na barraca sem camisa. “Aí não né, Deus?! Golpezinho baixo esse seu, heim?!”
- Boa noite, entra aí... – ele abriu a cortininha e se afastou pra eu entrar.
Sei que a essa altura eu já deveria estar acostumada a vê-lo só de sunga nos treinos de natação, mas nos treinos na verdade não tinha muito tempo pra ficar reparando detalhes como os músculos torneados sem serem volumosos, o peitoral definido e com poucos pêlos que pareciam seguir um caminho que passava pelo umbigo e descia até onde a calça do pijama aparecia.
- Vai entrar ou não? – o ouvi perguntar lá de dentro, me tirando do meu transe.
- Vou. Só acho que...
–O quê? – ele colocou a cabeça do lado de fora.
- Esqueci uma... coisa... - falei, procurando nem-sei-o-quê na bolsa, mais uma vez na esperança desesperada de disfarçar meu nervosismo.
- Vai lá pegar então. Deixa suas coisas aqui que eu vou arrumando. – ele saiu da barraca e veio pegar minhas coisas.
Acho que nunca em toda minha vida me concentrei tanto em mim mesma como o fiz naquele momento. “O que ta acontecendo comigo, meu Deus?!” eu pensava, travando uma verdadeira batalha com meus olhos que insistiam em olhar o corpo seminu do Zac. “Eu não sou assim!! O que ta acontecendo comigo?!”
- Mel, você ta bem? – ele perguntou se aproximando mais, parecendo sinceramente preocupado.
- Tô sim! Por quê? – minha voz saiu um pouco mais esganiçada do que eu esperava.
- Acho que você ta com febre... – ele falou, passando as costas de uma das mãos na minha testa.
Coloquei minhas mãos nas bochechas e senti que ardiam mesmo, mas não de febre: era vergonha! Mas óbvio que eu não ia falar isso, então tive que dar uma saída de mestre:
- Ah. Bem que eu achei que estava sentindo mais frio que o normal.. – cruzei os braços sobre o peito, fingindo estar com muito frio mesmo enquanto na verdade eu sentia um calor estranho.
- Entra, vai. Vou pegar um termômetro...
Ele me abraçou meio de lado, passando um dos braços no meu ombro. Senti sua pele nua e macia encostar em mim e mesmo através das minha roupa relativamente grossa, senti arrepios e mais calor subir pelo meu corpo. Comecei a acreditar que estava com febre mesmo.
Ele me sentou no saco de dormir dele, pegou um termômetro numa caixinha de primeiros socorros que tirou da bolsa e me deu. Enquanto esperávamos, ele arrumou meus pertences ao lado dos dele.
- Estranho... – ele falou ao pegar o termômetro assim que o mesmo apitou.
- Que foi? – perguntei preocupada, me inclinando pra ver o visor do termômetro elétrico.
- “Temperatura normal”. Não tem febre... – ele me olhou em dúvida.
- Ah! Devo ter ficado tempo demais perto da fogueira, meu corpo deve ter tido uma reação estranha, só isso. – falei o mais desencanada possível – Anda, vira pra lá pra eu me trocar! – mudei de assunto. – Alias.. hoje nem ta tão frio como ontem, né? Você tá até sem camisa...
Medi as costas dele: eram tão largas e bem torneadas, também sem exageros. Ele não era do tipo marombeiro e muito menos saudável, apesar de gostar bastante de esporte, por isso seu corpo era torneado porém não era magro. Alias, dentre os outros atletas ele poderia ser considerado até “cheinho” justamente por não se preocupar com alimentação balanceada nem passar horas e horas puxando ferro numa academia.
- Hoje ta mais quente mesmo... Na verdade nem é isso, é que não está ventando como ontem. – ele respondeu parecendo um velho pajé ou coisa do tipo.
Aproveitei que ele não estava me olhando pra dar uma espiada no espelho pra conferir se eu já havia voltado ao normal. Me senti aliviada ao ver meu rosto branco de volta. “Que sensação estranha foi aquela?” me perguntei “Estranha mas gostosa!” admiti.


~*~*~


As luzes já estavam apagadas, o acampamento estava quase todo em silêncio exceto por alguns murmurinhos de conversa nas outras barracas ouvidos ao longe.
Dessa vez estávamos cada um em seu saco de dormir, os dois deitados um de costas pro outro. Eu fechava os olhos mas o sono não vinha, não havia nenhuma posição confortável o suficiente pra me fazer dormir. Zac estava imóvel, o único som que ouvi vindo dele era sua respiração. Ele dormia como um anjo.
Na minha cabeça somente uma imagem: o corpo seminu dele que me fez sentir uma sensação que jamais experimentara antes e que queria muito sentir novamente. Só de pensar, senti meu corpo reagindo novamente, mas dessa vez foi algo ainda mais surpreendente e descontrolado: a temperatura do meu corpo subiu tanto e tão de repente que comecei a suar, meu corpo se arrepiou todo e minhas áreas intimas umedeceram. Achei que tivesse ficado menstruada naquele momento, me levantei num rompante e fui ao banheiro me limpar, mas não era menstruação.
As aulas de educação sexual me vieram a cabeça de repente e eu me toquei: “Eu fiquei excitada!” pela primeira vez na vida eu fiquei excitada. “Achei que só homens se excitavam com pensamentos!” pensei horrorizada e ao mesmo tempo feliz por estar me conhecendo um pouco melhor. “O Zac me excita...” agora eu sabia como sentir aquela sensação estranha e prazerosa de novo quantas vezes eu quisesse, era só pensar nele.


~*~*~


- Tá tudo bem, Mel? – Zac perguntou assim que voltei pra barraca.
- Tá tudo ótimo! – respondi, me sentindo boba porque não conseguia parar de sorrir. Me perguntei “Se só de masturbar a gente fica assim, como deve ser quando fazemos sexo?”
Ele ficou me olhando meio desconfiado por um tempo, depois sorriu.
- Ok então. Boa noite! – ele se virou pra dormir.
- Boa noite! – deitei de frente pras costas dele.
Fiquei o observando um tempo, imaginando como seria bom dormir abraçada com ele de novo como na noite anterior. “Na noite passada foi ele quem tomou a iniciativa. Acho que hoje é minha vez!”.
Estiquei meu braço com cautela, aproximando minha mão dos cabelos loiros dele esparramados folgadamente sobre o travesseiro, meus dedos tocando quase imperceptivelmente os fios. Ele não reagiu, estava dormindo profundamente já. Ousei mais um pouco: subi minha mão até a altura da nuca e afaguei seus cabelos novamente. Houve uma respiração mais profunda e nada mais.
Fazendo o mínimo de movimento e nenhum barulho audível aos ouvidos humanos, aproximei-me mais dele, ficando perto o bastante para sentir seu perfume. Afaguei mais seus cabelos, agora descendo a mão por todo o comprimento desde o topo da cabeça.
Me assustei quando ele se virou e me encarou com olhos super despertos, minha mão ficando suspensa no ar como se estivesse congelada, minha respiração parada. Pensei que ele brigaria e se afastasse, já estava procurando desculpas na minha mente, mas ao invés disso ele sorriu e se aproximou também, saindo de seu saco de dormir e eu do meu.
Ele passou uma das mãos pelos meus cabelos, descendo-a para meu ombro e braço num movimento delicado quase sem tocar minha pele, mas que foi o suficiente pro meu corpo se arrepiar. Também deslizei meus dedos por seu rosto, descendo por seu pescoço até o peito, sentindo sua pele reagir ao meu toque.
Nos aproximamos mais, ele entrelaçando suas pernas nas minhas, em seus olhos uma luz ardia enquanto ele olhava meu corpo através do pijama de tecido não muito fino. Desci um pouco mais minha mão, agora seguindo o caminho de pêlos que descia para além do umbigo. Senti sua respiração falhar quando contornei seu umbigo com o dedo indicador e comecei a fazer o caminho inverso, subindo a mão até seu rosto, agora o segurando com as duas mãos. Ele completou a ação me beijando delicadamente.
É engraçado como os instintos humanos funcionam: até aquele momento eu jamais tinha tocado o corpo de nenhum garoto daquele jeito muito menos tinha sido tocada daquela forma, porém eu sentia como se soubesse exatamente o que devia fazer e gostava bastante do que ele tava fazendo.
Só não sabia o que fazer além disso. Eu nunca tinha ido muito adiante numa preliminar, tampouco havia chegado nos finalmentes. Como toda adolescente curiosa eu já havia lido diversas coisas sobre sexo nas revistas e em livros sobre o assunto, mas saber a teoria não quer dizer que você vai saber aplicá-la na pratica.
Enquanto minha cabeça imaginava o que podia acontecer em seguida, deixei meu corpo trabalhar independente da mente. Simplesmente continuei seguindo meus instintos. Dancei conforme a música. Deixei o momento me levar.
Enquanto ainda nos beijávamos, senti uma certa tensão da parte dele. Ele parecia meio travado ainda, não estava totalmente a vontade. Eu que era a menos experiente de todos estava me sentindo super a votnade.
- O que foi? – perguntei quando percebi que ele começou a ficar inquieto, parecia querer se afastar.
- Eu... – ele começou a falar, meio sem jeito, procurando as palavras.
- Já sei. Você não está afim de mim... – senti o chão desabar sob meus pés. Queria que um buraco se abrisse ali naquele momento e me engolisse, mas isso não aconteceu.
- Não! Não é isso, Mel. É só que...
Algo o estava realmente incomodando. Zac era um cara direto que falava tudo na cara e parecia não sentir vergonha de nada, mas naquele momento ele estava muito vacilante. Tinha alguma cosia errada.
- “É só que” o quê, Zac? Se você não quiser ficar comigo... – minha voz deu uma falhada.
- Eu sou virgem! – ele praticamente cuspiu a frase.
- O quê?! – perguntei incrédula.
Ele repetiu mais uma vez e eu continuei sem reação. Ele não estava muito confortável com isso.
Expliquei que não estava chocada com o fato dele ser virgem, mas com o fato dele ter admitido isso. A impressão que eu tinha era que todo homem já chegava ao ensino médio desvirginado e mesmo que fosse mentira, nenhuma menina jamais descobriria porque eles sempre mentiam quanto a isso.
- Eu sou um tipo meio estranho mesmo... – ele brincou, mas ainda não estava confortável.
- Eu também sou Zac. Não tenho idéia do que estamos fazendo, pra te ser bem sincera. – falei por fim. Achei que isso talvez o confortasse.
“Alias, acabei de descobrir o que é masturbação e fiz isso pensando em você!” não sei porque esse pensamento me veio a cabeça, só sei que tive que me concentrar em não externalizá-lo em hipótese alguma.
- Será que devemos...? – ele começou a perguntar mas não terminou. Mas também nem precisava: eu sabia muito bem o fim da pergunta e qual era minha resposta.
- Se a gente ainda tem dúvida... Acho que não precisamos pensar muito pra saber a resposta. – respondi tão sabiamente que até me assustei comigo. – E além do mais, nós somos amigos... Não sei o que pode acontecer com nossa amizade depois que... Sabe? E não quero perdê-la!
Ele segurou meu rosto nas mãos novamente e com os olhos nos meus falou:
- Minha amizade você não vai perder nunca, ok?!
Concordei com um movimento de cabeça interrompido por um beijo surpresa.
Sem duvida alguma o conceito de amizade dele era um tanto diferente do meu. Amigos, pra mim, só davam beijo na bochecha, no máximo! Pra ele, amigos tinham que beijar de língua. “Será que é uma forma de selar a amizade? Americanos são estranhos!”
Depois disso descobri que assim como temos o nosso “ficar”, os americanos tem um tal de “amizade com benefícios”, que quer dizer que além de serem amigos, as pessoas podem trocar beijos e amassos e até transar, sem alterar a condição de “amigos” para “namorados”.



Capítulo 6


O intuito dos acampamentos e viagens do grupo de teatro, segundo o pessoal era “buscar inspiração respirando outros ares e se aproximar fora do palco pra os relacionamentos no palco parecerem mais reais”. Pelo menos da minha parte, o objetivo havia sido alcançado com sucesso!
Lá eu descobri coisas sobre mim - especialmente sobre meu corpo - que até então só havia ouvido falar nas aulas de Educação Sexual e nas revistas adolescentes que lia, mas até então pareciam estar totalmente fora da minha realidade.
Quando cheguei em casa fui direto pesquisar mais a fundo sobre masturbação e tudo o que havia sentido durante as noites dormindo junto com o Zac. Aproveitei o embalo pra ver se achava algo relacionado as regras – se é que tinha alguma – da relação “amigos com benefícios”. “Somos ‘amigos com benefícios’, agora... Mas o que será que isso quer dizer exatamente?”
Futucando daqui e dali, descobri que ter um “amigo com benefícios” era tudo que uma garota que vive se mudando como eu precisava ter: uma pessoa que pudesse suprir minhas necessidades de amizade e de um namorado sem que necessariamente houvesse a mesma ligação intensa e difícil de romper entre namorados.
“Eis a solução para meus problemas!” me senti feliz e até aliviada de pensar que agora eu não precisava mais sofrer desesperadamente quando precisasse terminar um namoro por causa de mudança, justamente porque NÃO PRECISAVA NAMORAR! Era só achar alguém como eu que não estivesse afim de namorar, mas que também não quisesse ficar com qualquer estranho que cruzasse seu caminho.


~*~*~


Apesar de agora sermos “amigos com benefícios”, isso não queria dizer necessariamente que a gente se pegava toda hora. Muito pelo contrário, a gente só se pegou novamente na festa do Dia das Bruxas, pouco mais de um mês depois do acampamento, mesmo tendo nos visto todos os dias várias vezes ao dia e em várias ocasiões propicias nesse meio tempo.
Era nosso primeiro Dia das Bruxas num lugar onde essa data era comemorada de verdade e minha mãe queria caprichar na decoração da entrada da nossa casa para receber a criançada do bairro e queria seus filhos bem caracterizados, então ela não mediu esforços para nos vestir com fantasias bem bacanas.
No dia iam ter várias festas pela cidade, o pessoal da escola não falava em outra coisa, mas como grande maioria era para maiores de 21 anos ou não seria supervisionada por um adulto responsável meu pai achou melhor eu ficar de fora. Nem me importei tanto, porque tava muito mais interessada em sair nas ruas com meus irmãos e pegar minha parte nos doces!
Nem fantasia eu não ia vestir, mas meus pais estavam tão empolgados – acho que mais até que meus irmãos! – que me fizeram escolher uma fantasia na loja:
- Bruxa? Sério? – olhei a fantasia com desprezo – Todo mundo vai estar vestido de bruxo!
- Ai, como você é chata! – minha mãe reclamou, voltando a olhar as fantasias - Que tal... Cinderela?
- Não. Nem Branca de Neve, nem Chapeuzinho, nem nada da Disney pra mim a não ser que eu tenha a idade da Clarinha e não saiba disso. – falei monotonamente, jogada num daqueles sofás que os homens geralmente sentam pra esperar as mulheres enquanto compram roupas.
- Mãe, eu só vou acompanhar os meninos, não preciso de fantasia... – mas esse e todos os argumentos que tentei foram em vão: “Quero TODO MUNDO fantasiado pra mandar as fotos pra vovó!” minha mãe continuava dizendo, toda feliz fazendo suas compras de Dia das Bruxas.
Era incrível como o shopping e toda a cidade entravam de cabeça no clima de Dia das Bruxas: todas as vitrines e fachadas das casas, dos prédios comerciais e dos residenciais começaram a ser decorados no meio do mês e praticamente todas as lojas de departamento haviam criado sessões especiais para artigos decorativos e fantasias.
Eu não estava muito no clima de procurar fantasia porque tava emburrada porque meu pai não me deixaria ir em nenhuma festinha sequer enquanto todos os meus amigos iam, por tanto não movi uma palha pra ajudar minha mãe com os decorativos nem com as fantasias dela, do meu pai, dos meus irmãos e a minha.
No dia 31 de outubro foi um porre ouvir todo mundo falando sobre suas fantasias e seus planos para a noite na escola:
- Vou ser a vampira mais sexy da festa do Mark! Nenhum rapaz vai resistir a uma mordidinha minha! – ouvi uma chefe de torcida falar no banheiro.
- Eu vou de Adão . – um garoto falou no refeitório.
Na nossa mesa também não era diferente:
- Vou me vestir de Hermione Granger do Harry Potter! – Akemi disse.
- Não precisa dizer de onde é a Hermione que todo mundo aqui sabe! – Phill respondeu, recebendo uma língua mal-criada como resposta. – E vocês meninas, vão vestidas de que na minha festa? – ele se voltou pra mim, Suzy e Britt.
- Eu vou de Sininho. – Suzy respondeu animadamente.
- E eu de escoteira. – Britt respondeu e foi zuada porque ela de fato era escoteira, então seu uniforme não era fantasia, era “pão-duragem”.
A conversa sobre as fantasias que vestiriam na festa do Phill logo mais a noite prosseguiu com Phill, Elloy e Elliot falando de suas fantasias de “Os Três Mosqueteiros” e Zac falando que não sabia ainda.
- E você, Mel? – todos perguntaram quase em conjunto.
- Ahm... Eu não vou poder ir, Phill! Desculpe... – lamentei, expressões de choque e desapontamento aparecendo nos rostos ao meu redor.
- Mas por quê? – Phill perguntou num tom sinceramente afetado.
- Meus pais não acham apropriado eu ir numa festa que não será supervisionada por um adulto responsável...
- Mas minha irmã ta dando a festa, por tanto ela estará lá e ela tem 22 anos, ou seja, já é adulta. Certo?
- É, mas... regras são regras, né? Nada de festa sem os pais pra supervisionar.
Não quis ampliar a discussão, mas numa coisa eu concordo com meus pais: desde quando uma jovem de 22 anos que dá uma festa em casa com bebida liberada e chama os amigos do irmão com 16 anos enquanto os pais viajam, pode ser dado como exemplo de “adulto responsável”?
A tarde quando cheguei em casa quase não reconheci nossa casa de tanto Jack A Lanterna, teias de mentirinha e morcegos enfeitando a varanda. Na porta meu pai instalou um dispositivo que disparava uma risada maligna quando a campanhia era acionada e minha mãe fez questão de pendurar coisas assustadoras na porta de cada cômodo.
O mais engraçado foi ver a empolgação da minha mãe cair por terra quando minha irmãzinha quase teve um curto-circuito de tanto chorar com as “caras feias”, a obrigando a limitar sua empolgação as fantasias e a decoração do lado de fora da casa.
Achei que tivesse me livrado do pesadelo da escolha da fantasia, mas estava enganada: minha mãe havia arranjado uma fantasia de odalisca só-Deus-sabe-onde e a deixara sobre minha cama.
- ODALISCA? Sério? – eu não sabia se ria ou se chorava.
- Não é odalisca! É Jeannie!! – ela ficou ofendida. “Sério, minha mãe não é normal.”
Pela minha cara de interrogação ela percebeu que precisava ser mais clara:
- Jeannie!! Da série “Jeannie É Um Gênio”, nunca ouviu falar“samurai”
- Não é da minha época...
Ela odiava esse tipo de resposta e eu adorava respondê-la assim, principalmente quando queria me livrar dela.
Ainda estava bastante relutante com a fantasia de Jeannie, mas não consegui resistir aos meus irmãos me pedindo tão animados pra eu sair fantasiada também, então acabei me vestindo e indo pra rua ao lado de uma “Super-Mãe”, da “princesa” Ana Clara, do “caçador de dinossauros” Douglas e do “chefe de polícia” Caio, montado em sua moto. Meu pai, o “Conde Rogério” ficou em casa para distribuir doces pra criançada e assustá-las com sua campanhia.
No meio do caminho, como não podia deixar de ser, tive que encontrar conhecidos.
- Mel!! – Jessica e Avery, irmãs mais novas do Zac gritaram meu nome em uníssono e vieram me abraçar.
- Oi! – respondi meio sem jeito, torcendo pra que só elas me vissem daquele jeito.
Enquanto Jessica se apresentava como “Cruela Cruel” e Avery como “Barbie”, Diana, a mãe deles apareceu logo depois vestida de hippie, acompanhada do “samurai” Mackenzie e “bailarina” Zöe. Continuamos recolhendo doces pela rua todos juntos e até foi divertido, apesar de que o que queria mesmo era estar me arrumando junto com as meninas para ir pra casa do Phill.
Levei um susto enorme quando estávamos acabando um dos lados da rua e senti alguém me puxar pelo braço e me girar no lugar: era o Zac vestido de Elvis com uma peruca exageradamente topetuda, me tirando pra dançar “Tutti Frutti” no meio da rua.
Já que já estava pagando mico mesmo, entrei na dança dele, mas não consegui chegar nem perto de fazer com minhas pernas o que ele fazia com as deles, por fim desisti: era humilhante demais dançar tão básica diante de uma pessoa que passava por profissional fácil.
- Então o Elvis não morreu afinal e vai cantar hoje na festa do Phill? – perguntei depois que nosso mico seguido de uma crise de riso acabou.
- Depende... – ele falou daquele jeito que faz a gente pensar “Ih, lá vem!”
- Depende do que, Elvis? – perguntei desconfiada, quase arrependida de ter perguntando.
- Depende se você vai atender meus pedidos, Jeannie. – ele deu uma piscadinha charmosa.
- Hum.. Depende do que você deseja, Elvis The Pelvis...
Ele fez aquela quebrada de quadril do Elvis. Ele realmente havia incorporado o personagem naquela noite.
Ele lançou um olhar em direção a nossas mães que não estavam tão próximas, mas poderiam nos ouvir, ainda mais que pareciam estar fingindo uma conversa para disfarçar que estava de ouvidos ligados na nossa conversa, depois olhou pra mim e pelo seu olhar eu deduzi o que ele poderia estar querendo.
Terminamos a coleta de doces e voltávamos pra casa quando Zac me convidou pra um lanche. Minha mãe deixou no ato, só me pedindo pra não chegar em casa tarde.
- Então, Mr. Presley, quais os seus desejos? – perguntei assim que sentamos numa das mesas e olhávamos o cardápio.
Percebi que ele não me respondeu, provavelmente porque nem tinha ouvido a pergunta, tamanha era sua concentração no decote da minha fantasia.
- ZAC! – gritei toda sem graça, cobrindo meu colo disfarçadamente com os braços.
- Desculpa! Não deu pra... – ele riu tentando se explicar, se desculpar, mas não parecia estar arrependido de verdade de ter me “comido com os olhos”.
Ele fez o pedido dele. Na verdade era um convite:
- Aluguei uns filmes bem sinistros pra assistir, ta afim?
- Bom... minha mãe pediu pra não chegar tarde, lembra?
- Ah, mas se você pedir pra dormir lá em casa...
Quando ele falou em dormir na casa dele, tive um flashback das duas noites que dormimos juntos no acampamento e da noite em que ficamos lá em casa. “Seria uma boa repetir a dose!... Mas será que aconteceria alguma coisa na CASA dele?”
Minha mãe deixou sem problema algum, até mesmo porque meus irmãos já estavam brincando lá e a Sra. Hanson já tinha avisado que eles passariam a noite lá – ela e minha mãe já nem pediam mais autorização, simplesmente avisavam que estavam “seqüestrando” o(s) filho(s) da outra.
- Claro que pode! – ela autorizou –Desde que seus pais não vejam problema nisso. – completou, se dirigindo ao Zac.
Os Hanson também não viam problema algum. Assim como meus pais eles eram tranqüilos com relação a nossa amizade, não viam maldade nela como as outras pessoas viam, apesar de também fazerem uma brincadeirinha ou outra às vezes. O fato é nossos pais confiavam na gente.


~*~*~


A maioria das vezes que eu dormi na casa dos Hanson, fui acomodada no quarto das meninas, mas naquele dia a casa tava cheia de amiguinhas delas e do Mac, então Diana me deu outras opções:
- Se você quiser se juntar a festinha delas, fique a vontade, mas posso arrumar a cama do Tay caso prefira ou o quarto de visitas...
- Acho melhor a cama do Tay mesmo porque o quarto de visitas está sem TV e o Mac e a molecada estão na sala então vamos ter que ver os filmes aqui mesmo. – Zac respondeu parecendo não se incomodar muito com o fato de a TV do quarto ser bem menor do que a da sala apesar dele sempre reclamar disso em outras ocasiões.
Arrumamos nossas camas e fomos à caça de besteiras de Halloween pra comer, coisa que não faltava em hipótese alguma na casa dos Hanson independente de ser Dia das Bruxas ou não já que a casa vivia cheia de crianças além de suas próprias crianças. E o mais impressionante era que tudo era comprado em quantidades cavalares o ano inteiro! “Por isso que a família toda está sempre elétrica!...”
Zac começou a rir sozinho do nada enquanto eu preparava brigadeiro pra gente.
- Que isso? Tá doido? – perguntei sem entender aquela reação súbita.
- Não é que essa cena ta engraçada... – ele continuou rindo. Parecia bêbado.
- Que cena? – continuei achando que ele tava surtando ou tinha misturado álcool ao refrigerante sem eu ver.
- “Jeannie É Um Gênio” na minha cozinha preparando um brigadeiro. Hilário! – ele riu de novo.
- Mais engraçado que isso, só um Elvis de rabo-de-cavalo loiro preparando milkshake pra Jeannie. – sorri.
O jeito como Zac conseguia fazer piada com tudo a sua volta era engraçado. Em todas as ocasiões ele sempre dava um jeito de rir e fazer rir. Era gostoso ficar perto dele, ele tinha uma energia muito gostosa e contagiante que me fazia muito bem.
E havia conexão entre a gente. Havia sincronia. Era como se nossos pensamentos estivessem ligados de modo que um sempre complementava o que o outro tinha a dizer; um sempre tinha uma piada pra complementar a do outro; um sempre tinha uma risada pra fazer companhia com a do outro.


~*~*~


- Mel? – ouvi a voz do Zac me chamar ao longe.
Abri meus olhos devagar, seus olhos castanhos me fitavam.
- Você está dormindo... – ele disse numa voz baixa e tranqüila como se quisesse me fazer dormir novamente.
- Eu dormi? – indaguei um pouco mais desperta, me situando no tempo e no espaço.
Ainda estávamos deitados sobre as almofadas que havíamos espalhado sobre um edredom encima do carpete, um do lado do outro, eu com a cabeça no ombro dele. A TV ainda estava ligada, mas agora só passava as letrinhas dos créditos.
- Ai... Desculpa! – lamentei, me sentando – Poxa... Perdi muita coisa?
- Você está dormindo praticamente desde o segundo filme... – ele sorriu, levemente desapontado.
- Ai.. que droga, heim! – fiquei muito sem graça.
Zac era do tipo de pessoa que achava que qualquer tipo de coisa que se faça durante um filme que não seja assisti-lo ou comentá-lo era como cometer uma heresia! Ele estava sendo gentil comigo nem sei por que, porque a vontade real dele tenho certeza que era me enxotar do recinto.
- Relaxa... Eu também não tava muito concentrado... – ele bocejou.
Achamos que era melhor dormir então, os dois estavam com aspecto de cansados. E além do mais notamos que a casa estava num silêncio profundo, o que queria dizer que já devia ser bem tarde e que só nós estávamos acordados.
- Quanto tempo devemos permanecer de fantasia após o término do dia 31?
Zac me olhou com uma cara estranha como se fizesse força pra entender uma língua estrangeira, meio querendo rir, meio segurando o riso. Cheguei a cogitar a possibilidade de ter feito a pergunta em português sem perceber, então a repeti.
- Você é sonâmbula, Mel? – ele me perguntou ainda com a mesma expressão perdida.
Só que dessa vez quem ficou perdida fui eu:
- O que sonambulismo tem a ver com minha pergunta?
- Será que é o fato dela não ter feito NENHUM sentido? – ele respondeu agora sem fazer nenhum esforço pra segurar o riso.
- O que não faz sentido é nós ainda sermos Elvis e Jeannie – apontei pra roupa dele e pra minha - sendo que já passou da meia-noite há muito tempo! É alguma regra ou simpatia que eu não conhecia, continuar fantasiado no dia seguinte ao Dia das Bruxas?
Agora que ele entendera a piada tivemos uma daquelas crises de riso que se tem quando se está com muito sono e tudo fica engraçado, até o silêncio.
Levamos um bocado de tempo pra recuperar o fôlego e voltar ao normal.
- O sono até passou... – comentei, me sentindo um pouco mais desperta.
- É verdade... – ele concordou e logo acrescentou – Mas acho melhor a gente voltar a ser Zac e Mel, né?
Concordei e fomos trocar nossas roupas. Pedi pra utilizar o banheiro do quarto e ele foi usar o do corredor.
Tomei uma chuveirada rápida só pra tirar qualquer vestígio de brincadeiras de Halloween que pudesse estar pelo meu corpo. Voltei ao quarto pra me vestir.
- Oh, merda...
Levei um susto ao me virar e dar de cara com ele parado na porta do closet me olhando só de calçinha.
- Eu juro que não vi nada! – ele mentiu, obviamente, se virando de costas o mais rápido que pode.
- Que diabos você está fazendo aqui?! Você não tinha saído do quarto? – perguntei me cobrindo com a toalha desajeitadamente.
- Eu saí e voltei, oras! Vim pegar o pijama. Não sabia que você...
- Já pegou seu pijama? – o interrompi bruscamente. Não quis parecer rude, mas eu estava sem graça demais pra controlar o nervosismo.
Ele concordou e saiu andando de lado, sem se virar.
Acho que em toda a minha vida não havia tido uma situação tão embaraçosa quanto aquela. Eu senti vontade de juntar todas as minhas coisas e ir embora pro Brasil ou pra outro planeta naquela hora. Nenhum garoto havia me visto nua até aquele momento e ficar nua na frente do meu melhor amigo jamais havia estado entre os itens da minha lista de coisas que eu queria que acontecesse na minha vida antes de eu morrer.
Quando ele voltou ao quarto com a maior cara de paisagem do mundo, fui direto ao ponto:
- Olha, será que você pode POR FAVOR esquecer o que viu? Tipo.. sei lá.. deletar mesmo igual computador assim? Por favor? – pedi muito, mas muito sem graça mesmo. Como eu queria morrer naquela hora!
Ele riu.
- Tá rindo de quê? Não to vendo graça nenhuma! – fiquei muito nervosa com o deboche dele.
- Você ta me pedindo o impossível, Mel! – ele continuou rindo.
- Zac, não tem graça! – ele tava me irritando de verdade.
Um defeito que ele tinha era a incrível capacidade de irritar as pessoas as vezes. Alias, acho que ele sentia prazer em fazer isso, em especial comigo! A gente se dava mega bem a maior parte do tempo, mas quando ele dava uma de debochado pra cima de mim eu ficava uma arara.
- Escuta aqui garoto: você vai esquecer que me viu pelada AGORA!
- Você estava de calçinha... Rosa ela é! É bonita, tem bom gosto. – ele sorriu.
“Ele SORRIU! Por que ele fez uma coisa dessas?! Gente, que tarado-pervertido-sem-vergonha!” senti vontade de falar tudo que estava pensando mas meu choque foi tanto que fiquei muda e parada. E ele continuava ali com aquela cara debochada sorrindo pra mim.
- O que você ta fazendo?... – ouvi ele perguntar quando peguei minha bolsa.
- O que te parece? – respondi nervosa, tentando guardar a toalha molhada de qualquer jeito.
- Ahm... Tá tentando roubar a toalha?
Só aí me toquei que estava guardando a toalha que a Sra. Hanson me entregara.
- Não! – joguei a toalha pra ele e peguei a mochila – Tô indo embora.
- Indo... ? HEY! – ele pegou meu braço com uma mão, a outra parando a porta num movimento preciso. – Por que isso? Eu estava brincando!
- Mas eu não! - tentei puxar a porta de novo mas ele a fechou novamente.
- Você vai sair na rua de pijama?
Ou ele não estava me levando a sério estava de pijama ou estava com um sério problema facial que não lhe permitia esconder os dentes, o fato era que por ele continuar rindo da minha cara, a vergonha que sentira antes estava virando irritação.
Mas eu não perdi a pose, nem entrei no jogo dele:
- Eu moro perto, não vai dar tempo de ninguém me ver de pijama! – insisti na porta mas a mesma nem saiu do lugar dessa vez.
- Você não vai ir embora a essa hora, muito menos vestida desse jeito, e menos ainda por causa de uma brincadeira. – ele falou um pouco mais sério entrando na minha frente, ficando entre a porta e eu.
- Eu não gostei da brincadeira, achei muito inapropriada diante da gravidade da situação! – o encarei cruzando os braços.
- Mel, foi um acidente! - ele estava irritavelmente relaxado e achando a coisa mais normal do mundo ele ter me visto PELADA! Eu discordava completamente dele!
- Sim, foi um acidente, mas eu fiquei realmente desconfortável com isso e...
- Ah, que graçinha! Você ta com vergonha! - ele riu e fez que ia apertar minhas bochechas que nessa hora devem ter atingido o tom e a temperatura do fogo do inferno.
- Que afirmação idiota! É ÓBVIO que tenho vergonha! – me afastei das mãos dele dando passos pra trás.
- “Óbvio” por quê? – ele perguntou serenamente.
Quanto mais a conversa avançava mais eu ficava impressionada com a capacidade do Zac de me tirar do sério com sua falta de noção.
- Como assim “óbvio por quê”? Você acha o que, que sou saio por aí ficando nua na frente de todo rapaz que conheço? Tá pensando que eu sou o quê? – eu já estava tão irritada antes mesmo de ouvir a resposta que minha reação a ela poderia ser violenta.
- Nada oras! – ele exclamou com ar de indignação por eu ter pensado que ele poderia ser capaz de pensar qualquer coisa errada sobre mim. – Só acho que você não tem por que ficar com vergonha de mim...
- Gente! Como não? Você é homem, não é? E é meu amigo!... – só de lembrar da cena eu me sentia tão envergonhada que não conseguia encará-lo. – É simplesmente... muito estranho!
- Estranho? Não vi nada de estranho nisso... – ele falou naquele tom que me faz pensar “Ih, lá vem!” de novo. - Você tem belos seios. Se fossem feios, aí sim seria muito estranho!
O olhar que ele lançou direto na direção dos meus seios me fez eu me sentir como se eles estivessem a mostra novamente.
- Ai meu Deus, Zac! – cruzei os braços sobre os seios por reflexo para escondê-los mesmo eles não estando a mostra e tentei mais uma vez abrir a porta, mas ele foi rápido em se colocar na minha frente novamente.
- É verdade! Seus corpo... Você tem seios incríveis!
- Ai meu Deus!! Chega!! Será possível que você não percebeu ainda o quanto esse tipo de comentário me deixa mais sem graça do que eu já estou?
- Desculpa, só estou sendo sincero... – ele sorria torto de um jeito bem charmoso.
- Tá obrigada! - Sorri meio sem jeito desviando o olhar, sentindo minha pele enrubescer mais ainda – se é que isso era possível. Apesar de o constrangimento ainda estar na minha cola, eu me sentia lisonjeada com o elogio
Notei que mesmo eu ainda estando meio que escondendo meus seios, ele olhava fixamente pra eles. Notei também que ele levou a mão “naquele lugar” umas duas ou três vezes enquanto conversávamos, achei que ele podia estar com coceira ou coisa do tipo, mas aí me lembrei que minha mãe já havia me explicado que os homens “coçam” “aquilo” quando estão excitados e querem “se acalmar”.
- Será que você poderia, POR FAVOR, olhar pra outro lugar? – falei super sem graça.
- Ah! Te deixei constrangida? – ele riu.
- Claro que deixou! Pergunta idiota...
- Então agora você sabe como me senti com você me secando aquele dia!
- EU te sequei? Quando? Tá doido?
Por um momento eu realmente não fazia idéia do que ele tava falando.
- No acampamento. Segunda noite. Eu estava sem camisa, lembra? Você não parava de me olhar... – ele fez cara de safado.
Outro flashback: eu realmente não conseguia parar de olhar o corpo dele naquela noite, não sei por que! Simplesmente não conseguia parar de olhar, era como se o estivesse vendo sem camisa pela primeira vez, fiquei encantada... Sei lá! Só sei que até então eu JURAVA que havia sido discreta, mas pelo visto...
Mas eu era teimosa e orgulhosa demais pra admitir uma fraqueza ou derrota, ainda mais para ele:
- Eu heim garoto! Não se acha, vai! Eu te secando!... – revirei os olhos fazendo pouco caso.
- Secou sim! E ficou toda vermelha e quente... Você ficou excitada, sua safadinha! – ele riu zombeteiro.
- Que fiquei o quê! Você ta doido!... – fiquei passada com tamanha acusação.
- Ficou sim! – ele continuava zombeteiro.
Neguei novamente e negaria até a morte se ele não tivesse jogado tão sujo:
- É mesmo? – ele perguntou mas antes de eu responder ele começou a tirar a camisa.
- O que você ta fazendo? – indaguei desconfiada.
- Quero comprovar minha teoria... – ele tirou a camisa.
- Zachary Hanson, ponha essa camisa imediatamente! – falei com firmeza, mantendo-me concentrada nos olhos dele.
Ele não falou nem fez nada a não ser ficar parado na minha frente com as mãos na cintura com aquela cara debochada e charmosa que só ele sabia fazer, me observando esperando minha reação.
- Zac, põe a camisa, por favor?! – falei com falsa gentileza.
Ele continuou me encarando imóvel.
- Zac – peguei a camisa e estendi a mão na direção dele - põe essa camisa AGORA! - falei as palavras pausadamente para mostrar que já estava perdendo a paciência.
Nenhuma reação da parte dele.
- Essa sua atitude infantil já foi longe demais! – comecei a arrumar a camisa embolada pra eu mesma vestir nele. Ele continuou imóvel e debochado.
Ignorei completamente a risadinha debochada dele, passando a gola da camisa pela cabeça dele. Mantive-me concentrada em qualquer outra coisa que não fosse o corpo exuberante dele diante de mim.
Ele começou a dificultar as coisas quando tentei pegar seus braços, mas eu me mantive firme e forte focada no meu objetivo final, que era não dar a ele o gostinho da vitória.
- Me dá o braço, Zac! – tentava agarrar um dos braços dele enquanto ele desviava fazendo “Olé!”.
Ficamos nessa luta por uns instantes até que ele tirou a camisa do pescoço num movimento rápido e num segundo movimento mais rápido ainda segurou meus punhos no ar e me puxou pra perto, nossos corpos ficando muito próximos mas sem se encostarem, nós nos olhando olhos nos olhos.
- Você é tão teimosa!... – ele falou ainda com aquele tom de deboche irritante.
- E você tão infantil!... – imitei o tom de deboche dele.
Ele tentou me puxar pra mais perto mas eu resisti, então ele abaixou minhas mãos as colocando bem próximas ao meu corpo e se aproximou mais um pouco, ainda mantendo nossos corpos afastados, dificultando bastante meu serviço de me manter concentrada, mas eu me mantive firme.
- Vai continuar resistindo, teimosinha? – ele sorria torto, malandro.
- Vou. – encarei em desafio.
Eu sabia que não resistiria por mais muito tempo. Nem eu nem ele, na verdade. Estávamos próximos demais e atraídos demais pelo perigo pra recuar agora.
Ele me soltou e subiu as mãos por meus braços delicadamente. Continuei resistindo, mas não consegui controlar o arrepio que ele provocou em mim. Ele percebeu e continuou deslizando as mãos pelos meus braços, provocante.
Continuei ali parada diante dele, os olhos fitando os dele sempre, mas já era tarde: minha mente já havia me traído me mostrando imagens repetidas do corpo e lembranças do que essas imagens me provocavam.
As mãos dele agora subiram por meus ombros e desceram novamente pelas costas, em um movimento contínuo e super delicado. Eu já não me esforçava mais pra vencer essa luta, já a havia perdido e ele também já sabia disso, pude ver no sorriso estampado em seu rosto.
Das costas suas mãos foram pra minha cintura e ele me puxou pra mais junto de si. Ainda com o intuito de me provocar, ele deu um beijinho no canto dos meus lábios, depois roçou seus lábios carnudos nos meus e beijou o outro canto, repetindo esse movimento mais duas vezes até que finalmente agarrei seu rosto com as duas mãos e o beijei profundamente.
Ele me guiou até sua cama onde nos sentamos.
- Quer dormir aqui comigo? – ele perguntou passando as mãos em meus cabelos.
- Não sei se é uma boa idéia... E se alguém nos ver?
- Tem “Não perturbe” na porta...
“Como se eu soubesse o que isso quer dizer!” pensei fazendo aquela cara de perdida.
Ele riu da minha expressão e se explicou:
- A gente preza muito a privacidade aqui em casa, daí todos os quartos têm uma plaquinha de “Não Perturbe” pra colocar na porta quando não é pra perturbar. Sacou?
- Saquei... – sorri – mas ainda assim... E se alguém desobedecer a regra?
- Desobedece não, pode ficar tranqüila. – ele sorriu – Mas se você não quiser, tudo bem... Não vou fazer nada que você não queira.
Cheguei a conclusão de que ele era muito fofo e compreensivo e muito respeitador mesmo e me senti mal por ter sequer pensado o contrário. Ele era totalmente diferente de qualquer rapaz que já conhecera em toda minha vida, que aproveitariam oportunidades como essas pra fazer tudo que tivessem ou não direito de fazer com qualquer garota. Mas ele não era assim. Ele tava mais pro tipo conquistador, daqueles que preferem encantar a gente pra poder saborear a relação por mais tempo, do que do tipo pegador que simplesmente pega, come, se satisfaz e parte pra outra.
Nos deitamos na cama e trocamos vários carinhos, ambos experimentando prazeres jamais sentidos antes enquanto nos auto descobríamos e descobríamos um ao outro. Ninguém sabia exatamente o que estava fazendo, estávamos simplesmente deixando nossos desejos nos guiarem.
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