Capítulo 9
Quando resolvi por num papel os prós e os contras de ir morar em Tulsa, o primeiro item da lista dos “prós” que escrevi no papel foi: “conhecer a neve”. Risquei logo em seguida porque achei muito idiota e infantil usar isso como argumento a favor, mas a verdade é que eu sempre quis muito conhecer a neve, sempre quis passar um Natal num lugar onde eu não tivesse que usar enfeites imitando flocos de neve sem parecer retardada por estar fazendo isso em pleno verão, sempre quis fazer uma guerrinha de bolas de neve, um boneco de neve e anjos de neve. E com certeza tudo isso seria possível de ser feito em Tulsa assim que o inverno chegasse.
Pelo que eu já havia pesquisado antes de nos mudar, os invernos de Tulsa eram muito rigorosos e provavelmente nós iríamos levar um bom tempo – talvez o inverno inteiro, ou até mais de um inverno – pra nos acostumar, mas isso não me importava, desde que tivesse enfim a chance de conhecer a neve e fazer tudo o que eu queria fazer nela. Além de poder usar todas aquelas roupas super bonitas de inverno.
Zac achou uma graça quando me ouviu falando isso a primeira vez e eu me senti a “estrangeira-caipira-idiota” por ter falado com ele o quão excitada e ansiosa eu estava com o inverno que se aproximava.
- Ah pára, vai! Não tem nada de “estrangeira-caipira-idiota”. Só achei engraçado você fazer tanta festa por algo tão... – ele parecia procurar as palavras.
- Comum? – o interrompi, completando-o.
- É! Tão comum.
- Comum pra você que vê neve todos os anos desde que nasceu, oras! Pra mim não é comum, é... mágico! – respondi um tanto sonhadora demais pra quem estava tentando limpar a imagem de “estrangeira-caipira-idiota” que acabara de criar para si mesma.
- Tá certa...Pra mim é comum mesmo... Entendo que pra você deve ser diferente... mágico, né, como você diz? – ele sorriu, mas eu ainda não sabia ele estava sorrindo para mim ou rindo de mim.
- Sim, pra mim é mágico. Ou pelo menos parece... Não é isso que mostram nos filmes quando os primeiros flocos de neve caem? Que tudo fica em paz, fica mais bonito, as pessoas ficam felizes e se abraçam e cantam musiquinhas natalinas? – eu ri de mim mesma quando terminei essa frase e ele riu também.
- Ah, vai! Esqueceu de dizer que os flocos de neve caem em câmera lenta e que todo mundo se perdoa e veste sweteres natalinos feitos pelas avós ou pelas mães. – ele riu gostoso e apesar de eu saber que ele estava tirando sarro do meu sarro foi irresistível rir com ele.
Ficamos um tempão deitados nas almofadas no chão do quarto dele conversando sobre a neve e sobre o frio, ele me contando como eram os invernos e festas de fim de ano dele e eu contando pra ele como eram os meus, no calor do verão brasileiro.
- Sabe de uma coisa? – ele se sentou tão de supetão, que num momento eu estava deitada com a cabeça no ombro dele e no segundo seguinte me vi sentada o olhando assustada.
-Não... O que foi? – o olhei indagadora e ainda um pouco assustada.
- Vou te fazer uma surpresa! – ele abriu um sorriso empolgado que iluminou o quarto.
- Ainda vai fazer a surpresa e já a está estragando me falando que vai fazê-la? Não entendi...
- Claro que não sua bobinha! – ele fez cara de fuinha e passou o nariz no meu. – Só estou te avisando que você vai ter uma surpresa. Em breve. Fique preparada.
Ao finalizar a frase ele sorriu de novo e antes que eu pudesse pensar em falar qualquer coisa, ele me deu um beijo de tirar o fôlego. Não entendi bulhufas do que ele queria dizer, mas aquela altura já não importava desde que ele nada interrompesse aquele beijo.
~*~*~
Por alguns dias fiquei me perguntando qual seria essa tal surpresa que o Zac havia falado. Até sondei as meninas e os meninos pra ver se eles sabiam de alguma coisa, mas tava todo mundo mais alienado do que eu.
Tentei inúmeras vezes arrancar alguma coisa do próprio Zac, mas ele só sabia ficar rindo debochadamente das minhas tentativas até me fazer perder a paciência e dar uns tapas nele.
- Não adianta me bater... – ele continuava com aquele sorrisinho irritante no rosto.
- Aiii você me irrita!! – explodi tentando dar um tapa no peito dele com as duas mãos, mas ele sugurou meus punhos e me puxou pra perto.
- Eu sei que você me ama! – ele me beijou.
Eu odiava quando ele tentava me acalmar com um beijo... Porque ele sempre conseguia.
- Então não vai mesmo me contar o que é? – lancei mais uma vez meu olhar suplicante pra ver se dessa vez dava certo...
- Vou conta na hora certa, Srta. Curiosidade. - ...mas ele continuou irredutível.
- E quando vai ser isso? – perguntei, derrotada.
- Em breve. – ele sorriu triunfante com minha derrota.
Até que daquela vez o “em breve” dele foi bem “em breve” mesmo. Naquela mesma noite quando ele esteve no meu quarto, pra ser mais precisa.
Ele apareceu com sua habitual calça de pijama aparecendo por baixo do roupão, mas dessa vez por cima do roupão ele vestia um casaco grosso e trazia outro nas mãos que estava protegidas por luvas, e nos pés ao invés do “chinelo do vovô” que eu sempre zuava ele por usá-los, ele usava tênis tipo de escalada. Confesso que não era uma imagem muito bonita de se ver, mas ele continuava lindo por baixo daquele figurino estranho, ainda mais com os cabelos soltos como estavam.
- Toma, veste isso... – ele me entregou o casaco grosso que segurava.
- Pra que isso? – olhei o casaco em dúvida.
- Veste, por favor? – o tempo todo ele estava com um sorriso ansioso nos lábios e parecia estar me estudando, observando cada reação e expressão minhas.
Vesti o casaco. Era dele com certeza, estava com o cheirinho dele.
- Agora põe isso... – ele tirou um par de luvas e uma máscara de dormir do bolso do casaco que me dera e me entregou.
- Pra... ? – perguntei olhando da máscara para as luvas e das luvas para ele sem entender nada.
- Pra não estragar a surpresa e não passar frio! Anda! – ele mesmo colocou a mascara em mim tamanha era sua impaciência, enquanto eu colocava as luvas.
- Agora... – ele vacilou – Onde estão seus sapatos?
- No armário... – respondi sem ver nada, mas pude perceber ele fazendo movimentos rápidos próximo a mim.
- Tá. Então calça um sapato fechado. Se tiver bota é melhor.
- E como você quer que eu faça isso? Me guiando como uma cega pelo ambiente, derrubando tudo e fazendo muito barulho pra acordar meus pais e eles pegarem a gente no meu quarto no meio da noite ou usando meu super poder de enxergar através da máscara de dormir? - indaguei irônicamente.
- Ah, que engraçadinha! – ele levantou a mascara.
- Obrigada. – me dirigi ao armário de calçados e peguei uma bota.
- Anda, Mel, estamos atrasados! – ele me apressou enquanto me dirigi calmamente até a cama onde me sentei para calçar as botas.
- Atrasado pra quê?
- Pra surpresa!
Quando me assustei ele estava diante de mim me ajudando a calçar uma das botas. Ele estava tão ansioso quanto eu com a surpresa e isso me dava uma vontade irresistível de fazer tudo mais devagar só para provocá-lo.
- Pronto? Podemos ir? – ele perguntou, se preparando pra descer a mascara sobre meus olhos de novo.
- Acho que sim... - antes mesmo de eu terminar de falar ele já havia me tornado cega novamente.
- Então vamos. Vou te guiar ok? Pode confiar em mim.
Senti suas mãos me envolverem pela cintura enquanto ele me guiava pra frente. Quando ele abriu a janela, a lufada de vento frio que entrou me congelou por um segundo e me fez tremer mesmo por baixo do casacão e do pijama grossos que eu vestia.
Ele me ajudou a passar pela janela e a descer pela cerca de trepadeiras na lateral da minha janela, quase que como se eu nem estivesse tocando nada, tamanho era o seu cuidado e a firmeza com que me segurava.
- Aonde nós estamos indo heim? – perguntei quando chegamos ao chão e percebi que ele me guiava pela calçada.
- Dá pra esperar? Que curiosa! – ele riu e me deu um selinho.
O resto do caminho fomos caminhando em silêncio, embora eu estivesse louca pra insistir nas perguntas até que ele cedesse. Mas caminhar ao lado dele em silêncio, tentando adivinhar qual seria a tal surpresa já era bom.
- Chegamos. – ele falou enfim, parando e me fazendo parar.
- Ah! Até que enfim! Não estava agüentando mais essa coisa...
- Ei! Eu disse que chegamos e não que era pra tirar a mascara! – ele baixou minhas mãos delicadamente e ajeitou a mascara nos meus olhos novamente.
- Ai Deus... E quando vou poder tirar, então?
- Daqui a pouco, calma... – senti as mãos frias dele acariciarem meu rosto, depois seus lábios quentes e macios tocarem os meus.
- Que delícia... Era essa a surpresa? – perguntei quando ele fez uma pausa no beijo.
- Não, né? Ia te tirar de casa no meio da madrugada pra te dar um beijo? – pude ouvir o ruído da risadinha dele.
- Ah, sei la... – ri também, procurando seu rosto com a mãos e o puxando pra perto quando o encontrei, lhe dano um beijo.
Ficamos nos beijando um tempo, até que um sonzinho semelhante ao som de chuva fina começou a nos envolver , me fazendo interromper nossos beijos.
- Que barulho é esse?
- É sua surpresa que acabou de chegar. Pode tirar a máscara. – ele respondeu.
Tirei a máscara e a primeira coisa que vi foram os lindos olhos castanhos dele olhando os meus cheios de expectativa, ainda com aquele ar de que estavam me analisando. Ainda estava meio sem entender o que ele quis dizer com “É sua surpresa que acabou de chegar”:
- O quê... ? – comecei a falar mas me interrompi quando ele fez um gesto com a cabeça me mandando olhar pro lado e eu obedeci.
De início só percebi que estávamos na praçinha no final da nossa rua e que apesar de algumas luzes iluminarem a praça e as ruas próximas, estava bem escuro devido ao avançar das horas e o tempo estava meio embaçado por causa do frio.
Olhei pra ele indagadoramente.
- A neve, Mel!!! – ele respondeu impaciente, estendendo os braços. – Não está vendo?
- Neve?... – foi aí que eu consegui ver o que ele via e tentava me mostrar. Acho que era porque até aquele momento eu estava tão entorpecida pelo sono, pelo frio e pelos beijos dele que realmente não havia percebido o que estava acontecendo a nossa volta.
- Oh meu Deus, Zac! É a neve!! De verdade!! – não consegui conter minha empolgação quando finalmente percebi que minha surpresa era ver os primeiros flocos de neve cairem.
- Sim! É a sua surpresa! – ele falou tão empolgado quanto eu.
De repente me vi rodopiando de braços abertos pela praçinha, como uma criança feliz – ou uma louca. Joguei minha cabeça para trás e pude sentir os floquinhos de neve caírem em meu rosto um pouco mais gelados que gotinhas de chuva.
- Ainda está fraquinha, mas dentro de alguns minutos deve au...
Antes que ele terminasse de falar “aumentar”, a neve começou a cair em maior quantidade, agora os flocos podendo ser vistos e sentidos melhor. O frio também aumentou; pude ver fumaçinha sair da minha boca, olhei pro Zac rindo quando constatei isso e ele me observava rindo de mim, mas eu nem ligava de ser a piada daquela hora porque estava muito feliz de estar conhecendo a neve finalmente.
- Vai ficar só olhando a louca da sua namorada brincando na neve? – indaguei.
Ele não respondeu, só ficou ali parado me olhando e sorrindo. Parecia estar admirando o momento.
– Ah, vem! Curte comigo! Eu sei que pra você é “comum”, mas pra mim continua sendo um momento mágico que eu gostaria de compartilhar com você. – me aproximei dele, segurando suas mãos e o puxando pro meio da praçinha.
Não precisei fazer muito esforço para fazê-lo entrar na minha brincadeira. Acho até que ele queria fazer isso desde o início, mas não queria me interromper.
Enquanto a neve cai cada vez mais forte e densa, cobrindo todas as superfícies ao nosso redor de branco, a gente rodopiava rindo e brincando pela praçinha como duas crianças felizes.
- Tá feliz? – ele perguntou, me puxando pela cintura com uma das mãos, a outra mão tirando meu cabelo do meu rosto.
- Muito! – respondi, passando uma das mão por seu pescoço, a outra arrumando seus cabelos como ele fazia com os meus.
Nos beijamos profundamente, o frio em volta da gente se tornando imperceptível diante do calor do momento.
Ainda não sei se ele entende o quando aquele momento significou pra mim e como ficou gravado pra sempre na minha memória, embora eu tenha outras tantas memórias de dias de neve como aquele.
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Capítulo 10
No dia seguinte acordei mais cedo do que pretendia, com uma mistura de vozes entusiasmadas bem embaixo da minha janela. “Tudo que eu mais queria era acordar as 7 horas com meus irmãos brincando no quintal, sem dúvida!” pensei, enfiando a cabeça embaixo do travesseiro pra ver se abafava o som.
Não adiantou, obviamente, mas minha preguiça era tanto que fiquei daquele jeito mesmo, sabe-se-lá por quanto tempo até sentir minhas cobertas serem delicadamente puxadas.
- É hora de acordar, “Mel Adormecida”! – ouvi uma voz distorcida, fina e irritante, abafada por causa do travesseiro. Achei que eu estava delirando por causa do excesso de sono, resolvi ignorar e tentar dormir novamente.
Mas a pessoas era tão irritantemente insistente!
- ME DEIXA DORMIR!!! – nem pensei duas vezes – alias, acho que nem pensei – simplesmente peguei a primeira coisa que minha mão alcançou e arremessei na direção da voz.
- Hey! Boneca legal. Ganhou quando tinha o quê? Cinco, seis anos?
Pensei ter ouvido a voz do Zac falando, mas o que eles estaria fazendo no meu quarto às sete da madrugada, sendo que ele mesmo havia me mantido acordada a noite quase toda?
- Então, vamos acordar? Temos muita coisa pra fazer hoje...
- Zac? – me virei, tirando o travesseiro da cabeça, tentando focalizá-lo meio sonolenta.
- BINGO! Temos uma vencedora! – ele falou numa animação surreal pra quem estava de pé praticamente depois de pouco mais de 3 horas de sono.
- O que você ta fazendo aqui a essa hora? – me sentei na cama, dando um jeito de arrumar meu cabelo rapidinho antes que ele percebesse que sua namorada sofrera uma metamorfose durante a noite que transformara seu cabelo numa juba de leão.
- “A essa hora” ? Como assim “a essa hora” ? Que horas você pensa que são? – ele se sentou na cama, jogando as colchas e cobertores pra um lado, descobrindo minhas pernas – Ownn... que meias meigas! Minhas irmãs usam meias assim. – ele zuou, exibindo aquele sorriso hipnotizante.
- Ei, ta me chamando de criança? Eu gosto de meias coloridas e fofas, dá licença? – respondi rabugenta, tirando minhas lindas meias rosa com o Piu-Piu desenhado em cada dedo, fazendo uma carinha – E além do mais, elas são quentinhas!
Ele riu, pra variar, e me deu um beijo na testa, depois se levantou num movimento rápido.
- Anda, vai! Estamos atrasados! Vai se arrumar que eu te espero lá embaixo.
- Estamos atrasado pras que, heim? – me levantei também, mas toda cheia de preguiça – Alias, que horas são? – procurei meu relógio com os olhos.
- Quase onze horas já. – ele respondeu na maior calma do unvierso.
- Onze horas?! Sério? – me assustei – Mas...
Olhei em direção a janela fazendo menção de abri-la, mas antes que eu fosse até ela Zac foi e a abriu, deixando a claridade e o frio entrarem . Não havia luz do sol, muito menos calor, somente uma claridade branca e a sensação de que o mundo havia virado uma geladeira gigante.
- Fecha isso! Tá frio! – me aproximei dele, fechando a janela às pressas.
- Ah, pára! Nem ta tão frio assim... AINDA! – ele sorriu com um sorriso que eu costumo dizer que é “maléfico”, como o dos vilões de desenho animado.
- Quantos graus? – perguntei curiosa, olhando todas as crianças da vizinhança correndo pela rua atirando bolinhas de neve uns nos outros, inclusive meus irmãos e os do Zac que brincavam no nosso quintal.
- Agora já está acima de zero, mas como ta ventando um pouco...
- “Acima de zero” quanto? – o olhei indagadora, arregalando os olhos quase sem perceber.
- Deve ta fazendo uns cinco graus... Deve subir mais um pouquinho ainda agora no início da tarde, mas a noite com certeza vai fazer muito frio, então você deve levar agasalho...
- Oi? – “do que ele está falando, afinal? Aonde nós estamos indo que eu precisava levar roupa pra usas a noite?”
- O que foi? - ele fez cara de desentendido. Ele tinha mania de fazer essa cara quando estava aprontando alguma coisa, uma surpresa, talvez, exatamente como havia feito nos dias que antecederam a noite anterior.
- Como assim “o que foi” ? Eu conheço essa cara, Zac! O que você ta aprontando? Aonde vai me levar?
- Escuta... Me reservo ao direito de não falar mais nada até que você esteja pronta.
Ele deu as costas e saiu do quarto, me deixando com cara de pastel. “Aiii, Zac Hanson, se você soubesse o quanto acabou de me irritar!...” fui tomar um banho pra acalmar e tirar o resto de sono que estava grudado em mim.
~*~*~
Como eu não tinha idéia do que ele estava aprontando, mas tinha certeza de que era coisa boa – Zac sabia como me agradar – montei na minha cabeça um figurino bem bacana e fui até o closet pegá-lo, porém ao abri-lo dei de cara com uma caixa e uma mochila bem na minha frente com um bilhete escrito assim: “Bom dia meu amor! Agora que você está devidamente acordada e de banho tomado, está na hora de se arrumar. Sua roupa está dentro da caixa e na mochila está tudo que vai precisar pra hoje. Te espero lá embaixo. Com amor, Z.”
“Ai Deus, o que ele está aprontando afinal?” eu estava tão entusiasmada e curiosa que abri a caixa de qualquer e fiquei chocada quando vi que a roupa que ele separara pra mim era exatamente uma que eu havia visto no shopping algumas semanas atrás quando fui ajudar a Jessica a comprar “coisas de menina”. “Sabia que tinha coisa nessa estória de ‘preciso de ajuda pra mudar o visual porque to afim de um carinha’! Jessica, você me paga!”
A roupa era linda: uma calça jeans bem escura, quase preta, uma blusa de gola rulê grossa o suficiente pra proteger do frio sem precisar colocar um casaco muito grosso por cima e um daqueles coletes que parecem acolchoados na cor vermelha, exatamente como a da bota All Star própria pra neve que estava no fundo da caixa.
- E aí, como estou? – perguntei assim que cheguei no pé da escada.
Ele me olhou do jeito que só ele olhava, com um brilho nos olhos que só os olhos dele tinham. E sorriu, daquele jeito que só ele sabe sorrir e veio ao meu encontro, quase que em câmera lenta.
- Tá linda! – ele segurou minhas mãos e me puxou pra perto, me dando um beijo suave e gostoso como a sensação dos floquinhos minúsculos de neve tocando a superfície do meu rosto na noite anterior.
- Então, já estão indo? – ouvi minha mãe perguntar.
- Já. – ele respondeu, se colocando ao meu lado.
- Então se cuidem, viu? Qualquer coisa me liga! Vocês voltam amanhã a tarde, não é?
Eu fiquei olhando de um pro outro tentando entender alguma coisa mas era como se eles estivessem falando alguma outra língua que ia além da minha compreensão.
- Voltamos a noitinha. Qualquer coisa a gente liga, não se preocupe. – ele sorriu e minha mãe sorriu de volta.
- Então ta. Beijo.. – ela deu um beijo em mim como de costume e um no Zac, pegando tanto ele quanto eu de surpresa. – É assim que eu trato meus filhos, oras! – ela falou ao perceber nossas caras de interrogação. – Andem, vocês já estão atrasados! Tchau! Juízo!
Nos dirigimos até o carro dele em silencio, eu ainda tentando elaborar teorias do que ele poderia estar aprontando e de como convencera meus pais a me deixarem ir sem ao menos falar comigo antes.
- Então, aonde vamos? – perguntei quando ele arrancou com o carro.
- Transar loucamente como dois animais! – ele respondeu num tom meio selvagem que se não tivesse me assustado tanto talvez tivesse me excitado.
- ZAC! – não pude evitar ficar corada e ele não pode evitar rir disso.
- Tô brincando, né? – ele gargalhou, me deixando mais corada ainda - Se bem que.. não seria uma má idéia... – ele olhou de lado, com um sorriso safado no canto dos lábios.
- ZAC!! – eu tava tão sem graça que quando me olhei no retrovisor do carro descobri que acabar de criar um novo tom de vermelho no meu rosto.
Ele não parava de rir de mim, gargalhava alto mesmo, me fazendo rir junto embora eu continuasse um tanto envergonhada.
- Então, que tal falar sério agora? – perguntei aproveitando a brecha quando ele diminuiu as gargalhadas.
- Vamos comemorar meu aniversário. – ele respondeu sorrindo normalmente.
- Que foi há um mês... – o olhei como se ele fosse um doido e não falasse coisa com coisa.
- Sim e não foi comemorado. Lembra?
Ele estava certo: aniversário dele havia sido a quase um mês e não havíamos comemorado direito porque coincidiu com época de provas, trabalhos e competições, então ele havia decidido que comemoraria quando a poeira baixasse.
- Ok. E porque estamos levando mochilas? – dei uma olhada rápida no banco de trás onde nossas mochilas estavam sobre o banco.
- Porque precisamos de roupas e suprimentos.
Ele respondia tudo tão calmamente demais que estava me dando nos nervos.
- Ok. E porque precisamos disso? – perguntei tentando manter a calma.
- Porque vamos dormir fora...
Definitivamente ele estava debochando com a minha cara. Não me agüente:
- ZAC HANSON!! – explodi – Dá pra parar de me enrolar e responder o que quero saber de fato?
Ele caiu na gargalhada de novo.
- Calma, Mel. Você ta muito estressada... – ele ria enquanto eu quase bufava.
- Odeio quando eu to falando sério e você ta tirando uma com a minha cara. – emburrei a cara, cruzei os braços e fiquei olhando pela janela mal-humorada.
- Ah, Mel... Vai fazer biquinho? Você sabe que eu não resisto... – pude ver ele sorrindo pelo reflexo do retrovisor.
Senti ele passando a mão no meu rosto e me afastei.
- Ah, vai ficar emburrada mesmo? – ele recolheu a mão e ficou sério.
- Você vai parar de fazer piada quando eu estiver falando sério com você? – perguntei um pouco grossa, confesso, mas não deu pra evitar.
- Era brincadeira, Mel... – eu ainda podia ouvir ele sorrindo e isso não fazia minha irritação diminuir nem um pouco.
Como eu não respondi nem olhei pra ele, ele continuou:
- Estava brincando, ok? Me desculpa? Eu não fiz por mal eu só...
Me virei pra ele, esperando ele continuar a frase.
- ...Não sei, é meu jeito. Eu faço piada quando to nervoso... ansioso, inseguro... – definitivamente naquela hora ele não estava mais achando graça, estava sério e levemente corado... “Zac ta envergonhado! Que fofo!”
- E você está se sentindo assim porque... ? – continuei o olhando, estudando a expressão do seu rosto: ele estava sem graça de estar admitindo uma fraqueza, sequer me olhava, olhava fixamente a estrada.
- Porque vamos passar o final de semana inteiro juntos e sozinhos... Praticamente...
Por essa eu juro que não esperava: “vamos passar o final de semana inteiro juntos e sozinhos” ?
- É, vamos.. – até ele responder eu não havia percebido que havia externalizado o pensamento. E a julgar pelo jeito como ele me olhava, eu havia falado alto demais.
- Mas como... ?
- Como convenci seus pais? – ele adivinhou a minha pergunta e com aquele sorrisinho sagaz respondeu minha dúvida – Falando que os pais do Elloy e do Elliot vão estar supervisionando a gente.
- E vão? – perguntei já imaginando a resposta, não conseguindo segurar o riso.
- Então... sim e não. – ele abriu um sorriso cômico e rápido, parecendo um desenho animado.
- Como assim? – ri da cara de desenho animado dele.
- Eles vão estar lá, sim, mas só chegam amanhã de manhã, então hoje a noite seremos só nós mesmo...
- “Nós” quem?
- Nossa galera, basicamente. – ele sorriu e deu uma piscadinha sexy, depois voltou sua atenção para a estrada.
~*~*~
O chalé de inverno da família dos gêmeos parecia pequeno por fora, mas por dentro era bem grandinho.
- Não sabia que existiam chalés tão grandes!... – comentei assim que entramos.
- Chegaram, finalmente! – Suzy exclamou animadinha demais, me dando um abraço muito apertado.
- Você bebeu, Suzy? – perguntei, rindo do jeito exagerado como Suzy nos recebia.
- Nããooo! – ela respondeu, me soltando num solavanco e me olhando com indignação.
- Precisa um pouco mais que isso pra nos convencer... – Zac falou, rindo dela, entrando na casa com nossas mochilas.
Akemi logo veio nos receber com uma prancheta em mãos:
- Vocês estão atrasados! Andem, acomodem-se, depois desçam! Temos muito trabalho a fazer.
Eu e Zac nos olhamos totalmente perdidos, depois olhamos pra ela que agora anotava alguma coisa num papel preso a prancheta.
- O que foi? O que vocês ainda estão fazendo parados aí? MEXAM-SE!
Após essa fala ouvi um “PÁ!” seguido do sumiço da Akemi e de um leve ardor na minha bunda.
– Ela bateu com a prancheta nas minha bunda? – perguntei indignada, massageando meu bumbum.
- Ela bateu com a prnacheta nas NOSSAS BUNDAS! – Zac respondeu tão indignado quanto eu.
Seguimos até nosso quarto no andar de cima, rindo do estado mental duvidoso das nossas duas amigas e supondo como estaria o estados dos meninos que até então na haviam dado as caras no chalé, embora Zac tenha deixado bem claro que o combinado era eles já terem chegado do supermercado há pelo menos 1 hora.
~*~*~
No andar de cima ficavam os quartos do chalé – 4 suites no total – e mais uma salainha de TV cuja sacada dava para a sala principal no andar debaixo, tudo bastante espaso para um chalé, como eu já havia observado assim que cheguei.
- Aqui é grande, mesmo, meu Deus! – observei quando abrimos a porta do quarto – Maior que minha casa...
- Até parece! – Zac riu, colocando nossas coisas sobre um sofá no canto do quarto.
- Minha casa no Brasil, idiota! – fiz língua pra ele, me jogando na enorme cama convidativa.
- Ah ta... - ele se jogou do meu lado – Até estranhei, porque sua casa é muito grande, até... Maior que a minha, eu acho...
- Mesmo tamanho, eu acho. Só que a sua tem muito mais gente, isso é fato!
- Ah, isso sem dúvida! – ele riu e começou a quicar sobre a cama.
- Hm... O que você ta fazendo? – o olhei meio segurando o riso, fazendo uma idéia do tipo de resposta que ouviria.
Ele abriu um sorriso malicioso e começou a pular sentado com mais força.
- Só testando... – deu de ombros.
- Se o colchão faz barulho? – ri, tirando minhas botas, me sentando e pulando junto com ele.
- Exatamente! – ele gargalhou, eu gargalhando junto.
Zac era uma figura, totalmente espontâneo, sempre me surpreendia até quando já esperava o que ele estava prestes a fazer. Ficar junto dele me fazia eu me sentir como se estivesse sempre prestes a abrir uma caixinha de surpresas, sabe? Era como se eu estivesse sempre em alerta, mas não de um modo negativo; muito pelo contrário, era como se estivesse sempre a espera de que algo bom e divertido estava prestes a acontecer, não importava a situação.
Quando nos demos conta, estávamos os dois pulando e gritando sobre a cama, fazendo guerra de travesseiros.
- Ei vocês dois! Não acham que está cedo demais pra essa pouca vergonha? – alguém gritou através da porta, dando socos espaçados e fortes enquanto falava.
- OOOHHH, Mel!! Acho que incomodamos nossos vizinhos com nosso sexo selvagem matinal. – Zac falou relativamente alto, agora batendo a cabeceira da cama na parede com uma das mãos, com a outra ele fazia sinal pra eu falar alguma coisa que confirmasse nossos atos sexuais de mentirinha.
- Para com isso, seu louco! – foi o que consegui falar entre dentes, tentando conter uma gargalhado estrondosa.
- OOOOHHH... Mel!! O que você... ? MEU DEUS, MEL, NÃO FAÇA... OOOHHH!!! – ele insistia em me pedir ajuda, mas eu simplesmente não conseguia fazer nada além de olhá-lo surpresa e sufocar a gargalhada.
- Caralho, o negócio ta sinistro aí dentro! – ouvimos uma segunda voz do lado de fora falar num tom de sussurro alto, depois passos apressados se afastando da porta entre risadas abafadas.
- Mel, você me deixa louuucooo!!! – Zac gritou, se jogando sobre mim num movimento rápido e de surpresa.
- AAAHHH!! Me solta!! – tentei me desvencilhar dos braços dele, mas nem me esforcei muito pra isso – Você é doido, sabia? Agora ta todo mundo pensando...
- Deixaaa eles pensarem o que bem quiserem! Quem se importa? Só nós sabemos o que fizemos entre essas quatro paredes... – ele me lançou um olhar malicioso, com um sorrisinho presunçoso nos lábios.
- Mas... nós não fizemos NADA!... Lembra? Você só fingiu... – usei aquele tom que os médicos usam quando se dirigem a um paciente com confusão mental depois de levar uma pancada forte na cabeça.
- Lembro... – ele falou tranqüilo, meio dando de ombros, mas sem perder a pose – Mas a gente AINDA não saiu do quarto também... Lembra? – ele usou o mesmo tom comigo, me fazendo rir e virar os olhos.
- E... ? – eu sorri maliciosa, fechando meus olhos numa fenda, aguardando ele revalar a ótima idéia que seu rosto denunciava que tivera.
– “E... ?” que a gente pode ficar aqui... Deitados nessa cama... – ele passou uma das mãos delicadamente pelo meu rosto, acompanhando a linha dos cabelos na minha testa, descendo pela lateral, colocando uma mecha atrás da minha orelha, me olhando com ternura e desejo.
- E... ? – indaguei, me virando de lado, ficando de frente pra ele, repetindo nele os mesmos movimentos que ele fizera em mim.
- E a gente pode... – ele se aproximou do meu ouvido e baixou a voz para um sussurro um tanto sensual que me causou arrepios - ...ficar juntos... namorar...
- E o que mais? – perguntei no tom mais sexy que consegui, deixando meus lábios roçarem a orelha dele, dando uma suspirada leve que o fez tremer.
Ele não falou “o que mais” podíamos fazer, simplesmente fez: beijou o lóbulo da minha orelha e deu uma mordiscadinha, depois seguiu beijando meu pescoço, uma das mãos deslizando nos meus cabelos pela minha nuca, seus dedos brincando e se embolando delicadamente nas mechas do meu cabelo, enquanto eu abria seu casaco com as mãos e acariciava seu peito sob a camisa de malha fina que ele usava, soltando gemidos baixos no pé do ouvido dele.
Com movimentos rápidos e precisos nos despimos, um ajudando o outro, e nos abraçamos, nos envolvendo num momento ardente e íntimo, uma atmosfera de prazer e desejo tomando conta do ambiente.
Nossos beijos e carícias nos provocavam arrepios e delírios mútuos, estávamos tão conectados, tão envolvidos, tão em sincronia, que parecia que éramos um só e que estávamos num universo a parte do resto do mundo.
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- Tá na hora de acordar, Mel Adormecida. – ouvi Zac falando ao longe com sua voz meio rouquinha um pouco mais rouca, denunciando que ele acabara de acordar.
- Eu dormi? – perguntei incrédula e sem graça, me sentando e cobrindo meu corpo nu com o lençol.
- Dormimos.. – ele sorriu – Agora temos que nos arrumar porque daqui a pouco a bagunça começa.
- É verdade... Que horas são? – olhei em volta, tentando ver alguma coisa pela janela, mas a mesma estava com a cortina cuidadosamente bem fechada.
- Hm... Deve ser umas cinco horas... cinco e meia, no máximo. Vamos tomar um banho então? – ele se sentou prontamente.
- Ahm... Vamos? – o olhei em dúvida.
Ele me encarou incrédulo como se eu tivesse acabado de xingar a mãe dele do nada.
- Vamos!... Não vamos? Ou você vai ficar porquinha? Oinc!
Eu não acreditei que ele tinha acabado de imitar um PORCO pra mim e cai na gargalhada.
- O que foi? – ele parecia em dúvida se ria ou se chamava um médico pra me internar.
- Você imitou um PORCO pra mim? Sério? – eu continuei rindo, agora da cara de interrogação que ele fazia.
- Ah, colé! Imito bem pra caramba! – ele riu de si mesmo, corando de leve e desviando o olhar, ficando exatamente como a gente fica quando se toca de algo extremamente idiota que acabou de fazer ou falar.
- É imita... – eu não conseguia aparar de rir, apesar de que agora já não gargalhava mais - Mas me chamou de PORCA! – falei indignada.
- Ué, foi você que achou uma coisa do outro mundo eu falar que íamos tomar banho. Caso você não se lembre, hoje é sábado, dia internacional do banho! Até pros porquinhos... – dessa vez ele não emitiu sons de porco, mas fez cara de porquinho.
- Eu não achei “coisa do outro mundo”! Só achei... sei lá! Estranho, eu acho, você falar que vamos tomar banho juntos...
- EU falei isso? – o porquinho levou um choque – Que dia, que não lembro?
- Ué... Acabou de falar! “Vamos tomar um banho” você disse assim que me respondeu que horas eram...
Por um minuto a confusão dele parecia estar passando pra mim, mas eu tinha certeza que ouvira direitinho ele falando essas palavras claramente. Ou eu estava viajando? “Será?”
- Falei que vamos tomar um banho: você o seu, eu o meu. Não falei: “Vamos tomar um banho JUNTOS!”
E aí eu senti mais uma vez aquele desejo enorme de ter o super poder de fazer buracos se abrirem no chão para me sugarem. Fiquei tão sem graça e pasma que só soltei um “Ah!” que eu tenho certeza que não me ajudou em nada, só entregou a vergonha sem fim que eu queria muito disfarçar naquela hora.
- Bem... A não ser que... você queira tomar banho JUNTO comigo. Eu não vou me opor a usa vontade! – ele riu e eu sabia que ele estava me provocando, resolvi provocá-lo também.
- De jeito nenhum! Cada um toma o seu banho sozinho.
Falei o mais segura possível e me levantei enrolada no lençol, o deixando na mão - ou melhor, com as “coisas” na mão – e me dirigi ao banheiro sem olhar pra trás, mas eu tinha certeza que ele tinha ficado na cama com cara de bobo e isso me fez eu me sentir vitoriosa...
- EEII!! – dei um pulo quando senti os braços dele envolvendo minha cintura, me pegando totalmente de surpresa – O que você pensa que está fazendo? – tentei tirar os braços dele, mas cheguei a conclusão de que pra conseguir isso com a mesma facilidade com que ele me prendia, eu teria que começar a malhar.
- Você acha MESMO que me engana? Eu sei que você quer isso tanto quanto eu! – ele tinha um sorriso incrivelmente sexy nos lábios quando falou isso.
Antes que eu pudesse pensar em dar qualquer tipo de resposta que desmentisse essa afirmativa, ele me empurrou pra dentro do box e ligou o chuveiro, despejando um forte jato de água sobre nós, molhando o lençol e tudo.
- Zac, o lençol...
- Depois a gente põe pra secar... – ele tirou o lençol ensopado de dentro do Box e o jogou na pia, depois se juntou a mim no Box.
- Você é louco, sabia? – sorri, jogando meus braços ao redor do seu pescoço e o beijei calorosamente.
- E você disfarça mal pra caramba! – rimos juntos.
“É, acho que você está certo...” admiti pra mim mesma enquanto nos beijávamos “Mas em minha defesa tenho a dizer que ou VOCÊ é quem é um ótimo detector de mentiras humano ou simplesmente me conhece melhor do que eu mesma...”
Quando resolvi por num papel os prós e os contras de ir morar em Tulsa, o primeiro item da lista dos “prós” que escrevi no papel foi: “conhecer a neve”. Risquei logo em seguida porque achei muito idiota e infantil usar isso como argumento a favor, mas a verdade é que eu sempre quis muito conhecer a neve, sempre quis passar um Natal num lugar onde eu não tivesse que usar enfeites imitando flocos de neve sem parecer retardada por estar fazendo isso em pleno verão, sempre quis fazer uma guerrinha de bolas de neve, um boneco de neve e anjos de neve. E com certeza tudo isso seria possível de ser feito em Tulsa assim que o inverno chegasse.
Pelo que eu já havia pesquisado antes de nos mudar, os invernos de Tulsa eram muito rigorosos e provavelmente nós iríamos levar um bom tempo – talvez o inverno inteiro, ou até mais de um inverno – pra nos acostumar, mas isso não me importava, desde que tivesse enfim a chance de conhecer a neve e fazer tudo o que eu queria fazer nela. Além de poder usar todas aquelas roupas super bonitas de inverno.
Zac achou uma graça quando me ouviu falando isso a primeira vez e eu me senti a “estrangeira-caipira-idiota” por ter falado com ele o quão excitada e ansiosa eu estava com o inverno que se aproximava.
- Ah pára, vai! Não tem nada de “estrangeira-caipira-idiota”. Só achei engraçado você fazer tanta festa por algo tão... – ele parecia procurar as palavras.
- Comum? – o interrompi, completando-o.
- É! Tão comum.
- Comum pra você que vê neve todos os anos desde que nasceu, oras! Pra mim não é comum, é... mágico! – respondi um tanto sonhadora demais pra quem estava tentando limpar a imagem de “estrangeira-caipira-idiota” que acabara de criar para si mesma.
- Tá certa...Pra mim é comum mesmo... Entendo que pra você deve ser diferente... mágico, né, como você diz? – ele sorriu, mas eu ainda não sabia ele estava sorrindo para mim ou rindo de mim.
- Sim, pra mim é mágico. Ou pelo menos parece... Não é isso que mostram nos filmes quando os primeiros flocos de neve caem? Que tudo fica em paz, fica mais bonito, as pessoas ficam felizes e se abraçam e cantam musiquinhas natalinas? – eu ri de mim mesma quando terminei essa frase e ele riu também.
- Ah, vai! Esqueceu de dizer que os flocos de neve caem em câmera lenta e que todo mundo se perdoa e veste sweteres natalinos feitos pelas avós ou pelas mães. – ele riu gostoso e apesar de eu saber que ele estava tirando sarro do meu sarro foi irresistível rir com ele.
Ficamos um tempão deitados nas almofadas no chão do quarto dele conversando sobre a neve e sobre o frio, ele me contando como eram os invernos e festas de fim de ano dele e eu contando pra ele como eram os meus, no calor do verão brasileiro.
- Sabe de uma coisa? – ele se sentou tão de supetão, que num momento eu estava deitada com a cabeça no ombro dele e no segundo seguinte me vi sentada o olhando assustada.
-Não... O que foi? – o olhei indagadora e ainda um pouco assustada.
- Vou te fazer uma surpresa! – ele abriu um sorriso empolgado que iluminou o quarto.
- Ainda vai fazer a surpresa e já a está estragando me falando que vai fazê-la? Não entendi...
- Claro que não sua bobinha! – ele fez cara de fuinha e passou o nariz no meu. – Só estou te avisando que você vai ter uma surpresa. Em breve. Fique preparada.
Ao finalizar a frase ele sorriu de novo e antes que eu pudesse pensar em falar qualquer coisa, ele me deu um beijo de tirar o fôlego. Não entendi bulhufas do que ele queria dizer, mas aquela altura já não importava desde que ele nada interrompesse aquele beijo.
~*~*~
Por alguns dias fiquei me perguntando qual seria essa tal surpresa que o Zac havia falado. Até sondei as meninas e os meninos pra ver se eles sabiam de alguma coisa, mas tava todo mundo mais alienado do que eu.
Tentei inúmeras vezes arrancar alguma coisa do próprio Zac, mas ele só sabia ficar rindo debochadamente das minhas tentativas até me fazer perder a paciência e dar uns tapas nele.
- Não adianta me bater... – ele continuava com aquele sorrisinho irritante no rosto.
- Aiii você me irrita!! – explodi tentando dar um tapa no peito dele com as duas mãos, mas ele sugurou meus punhos e me puxou pra perto.
- Eu sei que você me ama! – ele me beijou.
Eu odiava quando ele tentava me acalmar com um beijo... Porque ele sempre conseguia.
- Então não vai mesmo me contar o que é? – lancei mais uma vez meu olhar suplicante pra ver se dessa vez dava certo...
- Vou conta na hora certa, Srta. Curiosidade. - ...mas ele continuou irredutível.
- E quando vai ser isso? – perguntei, derrotada.
- Em breve. – ele sorriu triunfante com minha derrota.
Até que daquela vez o “em breve” dele foi bem “em breve” mesmo. Naquela mesma noite quando ele esteve no meu quarto, pra ser mais precisa.
Ele apareceu com sua habitual calça de pijama aparecendo por baixo do roupão, mas dessa vez por cima do roupão ele vestia um casaco grosso e trazia outro nas mãos que estava protegidas por luvas, e nos pés ao invés do “chinelo do vovô” que eu sempre zuava ele por usá-los, ele usava tênis tipo de escalada. Confesso que não era uma imagem muito bonita de se ver, mas ele continuava lindo por baixo daquele figurino estranho, ainda mais com os cabelos soltos como estavam.
- Toma, veste isso... – ele me entregou o casaco grosso que segurava.
- Pra que isso? – olhei o casaco em dúvida.
- Veste, por favor? – o tempo todo ele estava com um sorriso ansioso nos lábios e parecia estar me estudando, observando cada reação e expressão minhas.
Vesti o casaco. Era dele com certeza, estava com o cheirinho dele.
- Agora põe isso... – ele tirou um par de luvas e uma máscara de dormir do bolso do casaco que me dera e me entregou.
- Pra... ? – perguntei olhando da máscara para as luvas e das luvas para ele sem entender nada.
- Pra não estragar a surpresa e não passar frio! Anda! – ele mesmo colocou a mascara em mim tamanha era sua impaciência, enquanto eu colocava as luvas.
- Agora... – ele vacilou – Onde estão seus sapatos?
- No armário... – respondi sem ver nada, mas pude perceber ele fazendo movimentos rápidos próximo a mim.
- Tá. Então calça um sapato fechado. Se tiver bota é melhor.
- E como você quer que eu faça isso? Me guiando como uma cega pelo ambiente, derrubando tudo e fazendo muito barulho pra acordar meus pais e eles pegarem a gente no meu quarto no meio da noite ou usando meu super poder de enxergar através da máscara de dormir? - indaguei irônicamente.
- Ah, que engraçadinha! – ele levantou a mascara.
- Obrigada. – me dirigi ao armário de calçados e peguei uma bota.
- Anda, Mel, estamos atrasados! – ele me apressou enquanto me dirigi calmamente até a cama onde me sentei para calçar as botas.
- Atrasado pra quê?
- Pra surpresa!
Quando me assustei ele estava diante de mim me ajudando a calçar uma das botas. Ele estava tão ansioso quanto eu com a surpresa e isso me dava uma vontade irresistível de fazer tudo mais devagar só para provocá-lo.
- Pronto? Podemos ir? – ele perguntou, se preparando pra descer a mascara sobre meus olhos de novo.
- Acho que sim... - antes mesmo de eu terminar de falar ele já havia me tornado cega novamente.
- Então vamos. Vou te guiar ok? Pode confiar em mim.
Senti suas mãos me envolverem pela cintura enquanto ele me guiava pra frente. Quando ele abriu a janela, a lufada de vento frio que entrou me congelou por um segundo e me fez tremer mesmo por baixo do casacão e do pijama grossos que eu vestia.
Ele me ajudou a passar pela janela e a descer pela cerca de trepadeiras na lateral da minha janela, quase que como se eu nem estivesse tocando nada, tamanho era o seu cuidado e a firmeza com que me segurava.
- Aonde nós estamos indo heim? – perguntei quando chegamos ao chão e percebi que ele me guiava pela calçada.
- Dá pra esperar? Que curiosa! – ele riu e me deu um selinho.
O resto do caminho fomos caminhando em silêncio, embora eu estivesse louca pra insistir nas perguntas até que ele cedesse. Mas caminhar ao lado dele em silêncio, tentando adivinhar qual seria a tal surpresa já era bom.
- Chegamos. – ele falou enfim, parando e me fazendo parar.
- Ah! Até que enfim! Não estava agüentando mais essa coisa...
- Ei! Eu disse que chegamos e não que era pra tirar a mascara! – ele baixou minhas mãos delicadamente e ajeitou a mascara nos meus olhos novamente.
- Ai Deus... E quando vou poder tirar, então?
- Daqui a pouco, calma... – senti as mãos frias dele acariciarem meu rosto, depois seus lábios quentes e macios tocarem os meus.
- Que delícia... Era essa a surpresa? – perguntei quando ele fez uma pausa no beijo.
- Não, né? Ia te tirar de casa no meio da madrugada pra te dar um beijo? – pude ouvir o ruído da risadinha dele.
- Ah, sei la... – ri também, procurando seu rosto com a mãos e o puxando pra perto quando o encontrei, lhe dano um beijo.
Ficamos nos beijando um tempo, até que um sonzinho semelhante ao som de chuva fina começou a nos envolver , me fazendo interromper nossos beijos.
- Que barulho é esse?
- É sua surpresa que acabou de chegar. Pode tirar a máscara. – ele respondeu.
Tirei a máscara e a primeira coisa que vi foram os lindos olhos castanhos dele olhando os meus cheios de expectativa, ainda com aquele ar de que estavam me analisando. Ainda estava meio sem entender o que ele quis dizer com “É sua surpresa que acabou de chegar”:
- O quê... ? – comecei a falar mas me interrompi quando ele fez um gesto com a cabeça me mandando olhar pro lado e eu obedeci.
De início só percebi que estávamos na praçinha no final da nossa rua e que apesar de algumas luzes iluminarem a praça e as ruas próximas, estava bem escuro devido ao avançar das horas e o tempo estava meio embaçado por causa do frio.
Olhei pra ele indagadoramente.
- A neve, Mel!!! – ele respondeu impaciente, estendendo os braços. – Não está vendo?
- Neve?... – foi aí que eu consegui ver o que ele via e tentava me mostrar. Acho que era porque até aquele momento eu estava tão entorpecida pelo sono, pelo frio e pelos beijos dele que realmente não havia percebido o que estava acontecendo a nossa volta.
- Oh meu Deus, Zac! É a neve!! De verdade!! – não consegui conter minha empolgação quando finalmente percebi que minha surpresa era ver os primeiros flocos de neve cairem.
- Sim! É a sua surpresa! – ele falou tão empolgado quanto eu.
De repente me vi rodopiando de braços abertos pela praçinha, como uma criança feliz – ou uma louca. Joguei minha cabeça para trás e pude sentir os floquinhos de neve caírem em meu rosto um pouco mais gelados que gotinhas de chuva.
- Ainda está fraquinha, mas dentro de alguns minutos deve au...
Antes que ele terminasse de falar “aumentar”, a neve começou a cair em maior quantidade, agora os flocos podendo ser vistos e sentidos melhor. O frio também aumentou; pude ver fumaçinha sair da minha boca, olhei pro Zac rindo quando constatei isso e ele me observava rindo de mim, mas eu nem ligava de ser a piada daquela hora porque estava muito feliz de estar conhecendo a neve finalmente.
- Vai ficar só olhando a louca da sua namorada brincando na neve? – indaguei.
Ele não respondeu, só ficou ali parado me olhando e sorrindo. Parecia estar admirando o momento.
– Ah, vem! Curte comigo! Eu sei que pra você é “comum”, mas pra mim continua sendo um momento mágico que eu gostaria de compartilhar com você. – me aproximei dele, segurando suas mãos e o puxando pro meio da praçinha.
Não precisei fazer muito esforço para fazê-lo entrar na minha brincadeira. Acho até que ele queria fazer isso desde o início, mas não queria me interromper.
Enquanto a neve cai cada vez mais forte e densa, cobrindo todas as superfícies ao nosso redor de branco, a gente rodopiava rindo e brincando pela praçinha como duas crianças felizes.
- Tá feliz? – ele perguntou, me puxando pela cintura com uma das mãos, a outra mão tirando meu cabelo do meu rosto.
- Muito! – respondi, passando uma das mão por seu pescoço, a outra arrumando seus cabelos como ele fazia com os meus.
Nos beijamos profundamente, o frio em volta da gente se tornando imperceptível diante do calor do momento.
Ainda não sei se ele entende o quando aquele momento significou pra mim e como ficou gravado pra sempre na minha memória, embora eu tenha outras tantas memórias de dias de neve como aquele.
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Capítulo 10
No dia seguinte acordei mais cedo do que pretendia, com uma mistura de vozes entusiasmadas bem embaixo da minha janela. “Tudo que eu mais queria era acordar as 7 horas com meus irmãos brincando no quintal, sem dúvida!” pensei, enfiando a cabeça embaixo do travesseiro pra ver se abafava o som.
Não adiantou, obviamente, mas minha preguiça era tanto que fiquei daquele jeito mesmo, sabe-se-lá por quanto tempo até sentir minhas cobertas serem delicadamente puxadas.
- É hora de acordar, “Mel Adormecida”! – ouvi uma voz distorcida, fina e irritante, abafada por causa do travesseiro. Achei que eu estava delirando por causa do excesso de sono, resolvi ignorar e tentar dormir novamente.
Mas a pessoas era tão irritantemente insistente!
- ME DEIXA DORMIR!!! – nem pensei duas vezes – alias, acho que nem pensei – simplesmente peguei a primeira coisa que minha mão alcançou e arremessei na direção da voz.
- Hey! Boneca legal. Ganhou quando tinha o quê? Cinco, seis anos?
Pensei ter ouvido a voz do Zac falando, mas o que eles estaria fazendo no meu quarto às sete da madrugada, sendo que ele mesmo havia me mantido acordada a noite quase toda?
- Então, vamos acordar? Temos muita coisa pra fazer hoje...
- Zac? – me virei, tirando o travesseiro da cabeça, tentando focalizá-lo meio sonolenta.
- BINGO! Temos uma vencedora! – ele falou numa animação surreal pra quem estava de pé praticamente depois de pouco mais de 3 horas de sono.
- O que você ta fazendo aqui a essa hora? – me sentei na cama, dando um jeito de arrumar meu cabelo rapidinho antes que ele percebesse que sua namorada sofrera uma metamorfose durante a noite que transformara seu cabelo numa juba de leão.
- “A essa hora” ? Como assim “a essa hora” ? Que horas você pensa que são? – ele se sentou na cama, jogando as colchas e cobertores pra um lado, descobrindo minhas pernas – Ownn... que meias meigas! Minhas irmãs usam meias assim. – ele zuou, exibindo aquele sorriso hipnotizante.
- Ei, ta me chamando de criança? Eu gosto de meias coloridas e fofas, dá licença? – respondi rabugenta, tirando minhas lindas meias rosa com o Piu-Piu desenhado em cada dedo, fazendo uma carinha – E além do mais, elas são quentinhas!
Ele riu, pra variar, e me deu um beijo na testa, depois se levantou num movimento rápido.
- Anda, vai! Estamos atrasados! Vai se arrumar que eu te espero lá embaixo.
- Estamos atrasado pras que, heim? – me levantei também, mas toda cheia de preguiça – Alias, que horas são? – procurei meu relógio com os olhos.
- Quase onze horas já. – ele respondeu na maior calma do unvierso.
- Onze horas?! Sério? – me assustei – Mas...
Olhei em direção a janela fazendo menção de abri-la, mas antes que eu fosse até ela Zac foi e a abriu, deixando a claridade e o frio entrarem . Não havia luz do sol, muito menos calor, somente uma claridade branca e a sensação de que o mundo havia virado uma geladeira gigante.
- Fecha isso! Tá frio! – me aproximei dele, fechando a janela às pressas.
- Ah, pára! Nem ta tão frio assim... AINDA! – ele sorriu com um sorriso que eu costumo dizer que é “maléfico”, como o dos vilões de desenho animado.
- Quantos graus? – perguntei curiosa, olhando todas as crianças da vizinhança correndo pela rua atirando bolinhas de neve uns nos outros, inclusive meus irmãos e os do Zac que brincavam no nosso quintal.
- Agora já está acima de zero, mas como ta ventando um pouco...
- “Acima de zero” quanto? – o olhei indagadora, arregalando os olhos quase sem perceber.
- Deve ta fazendo uns cinco graus... Deve subir mais um pouquinho ainda agora no início da tarde, mas a noite com certeza vai fazer muito frio, então você deve levar agasalho...
- Oi? – “do que ele está falando, afinal? Aonde nós estamos indo que eu precisava levar roupa pra usas a noite?”
- O que foi? - ele fez cara de desentendido. Ele tinha mania de fazer essa cara quando estava aprontando alguma coisa, uma surpresa, talvez, exatamente como havia feito nos dias que antecederam a noite anterior.
- Como assim “o que foi” ? Eu conheço essa cara, Zac! O que você ta aprontando? Aonde vai me levar?
- Escuta... Me reservo ao direito de não falar mais nada até que você esteja pronta.
Ele deu as costas e saiu do quarto, me deixando com cara de pastel. “Aiii, Zac Hanson, se você soubesse o quanto acabou de me irritar!...” fui tomar um banho pra acalmar e tirar o resto de sono que estava grudado em mim.
~*~*~
Como eu não tinha idéia do que ele estava aprontando, mas tinha certeza de que era coisa boa – Zac sabia como me agradar – montei na minha cabeça um figurino bem bacana e fui até o closet pegá-lo, porém ao abri-lo dei de cara com uma caixa e uma mochila bem na minha frente com um bilhete escrito assim: “Bom dia meu amor! Agora que você está devidamente acordada e de banho tomado, está na hora de se arrumar. Sua roupa está dentro da caixa e na mochila está tudo que vai precisar pra hoje. Te espero lá embaixo. Com amor, Z.”
“Ai Deus, o que ele está aprontando afinal?” eu estava tão entusiasmada e curiosa que abri a caixa de qualquer e fiquei chocada quando vi que a roupa que ele separara pra mim era exatamente uma que eu havia visto no shopping algumas semanas atrás quando fui ajudar a Jessica a comprar “coisas de menina”. “Sabia que tinha coisa nessa estória de ‘preciso de ajuda pra mudar o visual porque to afim de um carinha’! Jessica, você me paga!”
A roupa era linda: uma calça jeans bem escura, quase preta, uma blusa de gola rulê grossa o suficiente pra proteger do frio sem precisar colocar um casaco muito grosso por cima e um daqueles coletes que parecem acolchoados na cor vermelha, exatamente como a da bota All Star própria pra neve que estava no fundo da caixa.
- E aí, como estou? – perguntei assim que cheguei no pé da escada.
Ele me olhou do jeito que só ele olhava, com um brilho nos olhos que só os olhos dele tinham. E sorriu, daquele jeito que só ele sabe sorrir e veio ao meu encontro, quase que em câmera lenta.
- Tá linda! – ele segurou minhas mãos e me puxou pra perto, me dando um beijo suave e gostoso como a sensação dos floquinhos minúsculos de neve tocando a superfície do meu rosto na noite anterior.
- Então, já estão indo? – ouvi minha mãe perguntar.
- Já. – ele respondeu, se colocando ao meu lado.
- Então se cuidem, viu? Qualquer coisa me liga! Vocês voltam amanhã a tarde, não é?
Eu fiquei olhando de um pro outro tentando entender alguma coisa mas era como se eles estivessem falando alguma outra língua que ia além da minha compreensão.
- Voltamos a noitinha. Qualquer coisa a gente liga, não se preocupe. – ele sorriu e minha mãe sorriu de volta.
- Então ta. Beijo.. – ela deu um beijo em mim como de costume e um no Zac, pegando tanto ele quanto eu de surpresa. – É assim que eu trato meus filhos, oras! – ela falou ao perceber nossas caras de interrogação. – Andem, vocês já estão atrasados! Tchau! Juízo!
Nos dirigimos até o carro dele em silencio, eu ainda tentando elaborar teorias do que ele poderia estar aprontando e de como convencera meus pais a me deixarem ir sem ao menos falar comigo antes.
- Então, aonde vamos? – perguntei quando ele arrancou com o carro.
- Transar loucamente como dois animais! – ele respondeu num tom meio selvagem que se não tivesse me assustado tanto talvez tivesse me excitado.
- ZAC! – não pude evitar ficar corada e ele não pode evitar rir disso.
- Tô brincando, né? – ele gargalhou, me deixando mais corada ainda - Se bem que.. não seria uma má idéia... – ele olhou de lado, com um sorriso safado no canto dos lábios.
- ZAC!! – eu tava tão sem graça que quando me olhei no retrovisor do carro descobri que acabar de criar um novo tom de vermelho no meu rosto.
Ele não parava de rir de mim, gargalhava alto mesmo, me fazendo rir junto embora eu continuasse um tanto envergonhada.
- Então, que tal falar sério agora? – perguntei aproveitando a brecha quando ele diminuiu as gargalhadas.
- Vamos comemorar meu aniversário. – ele respondeu sorrindo normalmente.
- Que foi há um mês... – o olhei como se ele fosse um doido e não falasse coisa com coisa.
- Sim e não foi comemorado. Lembra?
Ele estava certo: aniversário dele havia sido a quase um mês e não havíamos comemorado direito porque coincidiu com época de provas, trabalhos e competições, então ele havia decidido que comemoraria quando a poeira baixasse.
- Ok. E porque estamos levando mochilas? – dei uma olhada rápida no banco de trás onde nossas mochilas estavam sobre o banco.
- Porque precisamos de roupas e suprimentos.
Ele respondia tudo tão calmamente demais que estava me dando nos nervos.
- Ok. E porque precisamos disso? – perguntei tentando manter a calma.
- Porque vamos dormir fora...
Definitivamente ele estava debochando com a minha cara. Não me agüente:
- ZAC HANSON!! – explodi – Dá pra parar de me enrolar e responder o que quero saber de fato?
Ele caiu na gargalhada de novo.
- Calma, Mel. Você ta muito estressada... – ele ria enquanto eu quase bufava.
- Odeio quando eu to falando sério e você ta tirando uma com a minha cara. – emburrei a cara, cruzei os braços e fiquei olhando pela janela mal-humorada.
- Ah, Mel... Vai fazer biquinho? Você sabe que eu não resisto... – pude ver ele sorrindo pelo reflexo do retrovisor.
Senti ele passando a mão no meu rosto e me afastei.
- Ah, vai ficar emburrada mesmo? – ele recolheu a mão e ficou sério.
- Você vai parar de fazer piada quando eu estiver falando sério com você? – perguntei um pouco grossa, confesso, mas não deu pra evitar.
- Era brincadeira, Mel... – eu ainda podia ouvir ele sorrindo e isso não fazia minha irritação diminuir nem um pouco.
Como eu não respondi nem olhei pra ele, ele continuou:
- Estava brincando, ok? Me desculpa? Eu não fiz por mal eu só...
Me virei pra ele, esperando ele continuar a frase.
- ...Não sei, é meu jeito. Eu faço piada quando to nervoso... ansioso, inseguro... – definitivamente naquela hora ele não estava mais achando graça, estava sério e levemente corado... “Zac ta envergonhado! Que fofo!”
- E você está se sentindo assim porque... ? – continuei o olhando, estudando a expressão do seu rosto: ele estava sem graça de estar admitindo uma fraqueza, sequer me olhava, olhava fixamente a estrada.
- Porque vamos passar o final de semana inteiro juntos e sozinhos... Praticamente...
Por essa eu juro que não esperava: “vamos passar o final de semana inteiro juntos e sozinhos” ?
- É, vamos.. – até ele responder eu não havia percebido que havia externalizado o pensamento. E a julgar pelo jeito como ele me olhava, eu havia falado alto demais.
- Mas como... ?
- Como convenci seus pais? – ele adivinhou a minha pergunta e com aquele sorrisinho sagaz respondeu minha dúvida – Falando que os pais do Elloy e do Elliot vão estar supervisionando a gente.
- E vão? – perguntei já imaginando a resposta, não conseguindo segurar o riso.
- Então... sim e não. – ele abriu um sorriso cômico e rápido, parecendo um desenho animado.
- Como assim? – ri da cara de desenho animado dele.
- Eles vão estar lá, sim, mas só chegam amanhã de manhã, então hoje a noite seremos só nós mesmo...
- “Nós” quem?
- Nossa galera, basicamente. – ele sorriu e deu uma piscadinha sexy, depois voltou sua atenção para a estrada.
~*~*~
O chalé de inverno da família dos gêmeos parecia pequeno por fora, mas por dentro era bem grandinho.
- Não sabia que existiam chalés tão grandes!... – comentei assim que entramos.
- Chegaram, finalmente! – Suzy exclamou animadinha demais, me dando um abraço muito apertado.
- Você bebeu, Suzy? – perguntei, rindo do jeito exagerado como Suzy nos recebia.
- Nããooo! – ela respondeu, me soltando num solavanco e me olhando com indignação.
- Precisa um pouco mais que isso pra nos convencer... – Zac falou, rindo dela, entrando na casa com nossas mochilas.
Akemi logo veio nos receber com uma prancheta em mãos:
- Vocês estão atrasados! Andem, acomodem-se, depois desçam! Temos muito trabalho a fazer.
Eu e Zac nos olhamos totalmente perdidos, depois olhamos pra ela que agora anotava alguma coisa num papel preso a prancheta.
- O que foi? O que vocês ainda estão fazendo parados aí? MEXAM-SE!
Após essa fala ouvi um “PÁ!” seguido do sumiço da Akemi e de um leve ardor na minha bunda.
– Ela bateu com a prancheta nas minha bunda? – perguntei indignada, massageando meu bumbum.
- Ela bateu com a prnacheta nas NOSSAS BUNDAS! – Zac respondeu tão indignado quanto eu.
Seguimos até nosso quarto no andar de cima, rindo do estado mental duvidoso das nossas duas amigas e supondo como estaria o estados dos meninos que até então na haviam dado as caras no chalé, embora Zac tenha deixado bem claro que o combinado era eles já terem chegado do supermercado há pelo menos 1 hora.
~*~*~
No andar de cima ficavam os quartos do chalé – 4 suites no total – e mais uma salainha de TV cuja sacada dava para a sala principal no andar debaixo, tudo bastante espaso para um chalé, como eu já havia observado assim que cheguei.
- Aqui é grande, mesmo, meu Deus! – observei quando abrimos a porta do quarto – Maior que minha casa...
- Até parece! – Zac riu, colocando nossas coisas sobre um sofá no canto do quarto.
- Minha casa no Brasil, idiota! – fiz língua pra ele, me jogando na enorme cama convidativa.
- Ah ta... - ele se jogou do meu lado – Até estranhei, porque sua casa é muito grande, até... Maior que a minha, eu acho...
- Mesmo tamanho, eu acho. Só que a sua tem muito mais gente, isso é fato!
- Ah, isso sem dúvida! – ele riu e começou a quicar sobre a cama.
- Hm... O que você ta fazendo? – o olhei meio segurando o riso, fazendo uma idéia do tipo de resposta que ouviria.
Ele abriu um sorriso malicioso e começou a pular sentado com mais força.
- Só testando... – deu de ombros.
- Se o colchão faz barulho? – ri, tirando minhas botas, me sentando e pulando junto com ele.
- Exatamente! – ele gargalhou, eu gargalhando junto.
Zac era uma figura, totalmente espontâneo, sempre me surpreendia até quando já esperava o que ele estava prestes a fazer. Ficar junto dele me fazia eu me sentir como se estivesse sempre prestes a abrir uma caixinha de surpresas, sabe? Era como se eu estivesse sempre em alerta, mas não de um modo negativo; muito pelo contrário, era como se estivesse sempre a espera de que algo bom e divertido estava prestes a acontecer, não importava a situação.
Quando nos demos conta, estávamos os dois pulando e gritando sobre a cama, fazendo guerra de travesseiros.
- Ei vocês dois! Não acham que está cedo demais pra essa pouca vergonha? – alguém gritou através da porta, dando socos espaçados e fortes enquanto falava.
- OOOHHH, Mel!! Acho que incomodamos nossos vizinhos com nosso sexo selvagem matinal. – Zac falou relativamente alto, agora batendo a cabeceira da cama na parede com uma das mãos, com a outra ele fazia sinal pra eu falar alguma coisa que confirmasse nossos atos sexuais de mentirinha.
- Para com isso, seu louco! – foi o que consegui falar entre dentes, tentando conter uma gargalhado estrondosa.
- OOOOHHH... Mel!! O que você... ? MEU DEUS, MEL, NÃO FAÇA... OOOHHH!!! – ele insistia em me pedir ajuda, mas eu simplesmente não conseguia fazer nada além de olhá-lo surpresa e sufocar a gargalhada.
- Caralho, o negócio ta sinistro aí dentro! – ouvimos uma segunda voz do lado de fora falar num tom de sussurro alto, depois passos apressados se afastando da porta entre risadas abafadas.
- Mel, você me deixa louuucooo!!! – Zac gritou, se jogando sobre mim num movimento rápido e de surpresa.
- AAAHHH!! Me solta!! – tentei me desvencilhar dos braços dele, mas nem me esforcei muito pra isso – Você é doido, sabia? Agora ta todo mundo pensando...
- Deixaaa eles pensarem o que bem quiserem! Quem se importa? Só nós sabemos o que fizemos entre essas quatro paredes... – ele me lançou um olhar malicioso, com um sorrisinho presunçoso nos lábios.
- Mas... nós não fizemos NADA!... Lembra? Você só fingiu... – usei aquele tom que os médicos usam quando se dirigem a um paciente com confusão mental depois de levar uma pancada forte na cabeça.
- Lembro... – ele falou tranqüilo, meio dando de ombros, mas sem perder a pose – Mas a gente AINDA não saiu do quarto também... Lembra? – ele usou o mesmo tom comigo, me fazendo rir e virar os olhos.
- E... ? – eu sorri maliciosa, fechando meus olhos numa fenda, aguardando ele revalar a ótima idéia que seu rosto denunciava que tivera.
– “E... ?” que a gente pode ficar aqui... Deitados nessa cama... – ele passou uma das mãos delicadamente pelo meu rosto, acompanhando a linha dos cabelos na minha testa, descendo pela lateral, colocando uma mecha atrás da minha orelha, me olhando com ternura e desejo.
- E... ? – indaguei, me virando de lado, ficando de frente pra ele, repetindo nele os mesmos movimentos que ele fizera em mim.
- E a gente pode... – ele se aproximou do meu ouvido e baixou a voz para um sussurro um tanto sensual que me causou arrepios - ...ficar juntos... namorar...
- E o que mais? – perguntei no tom mais sexy que consegui, deixando meus lábios roçarem a orelha dele, dando uma suspirada leve que o fez tremer.
Ele não falou “o que mais” podíamos fazer, simplesmente fez: beijou o lóbulo da minha orelha e deu uma mordiscadinha, depois seguiu beijando meu pescoço, uma das mãos deslizando nos meus cabelos pela minha nuca, seus dedos brincando e se embolando delicadamente nas mechas do meu cabelo, enquanto eu abria seu casaco com as mãos e acariciava seu peito sob a camisa de malha fina que ele usava, soltando gemidos baixos no pé do ouvido dele.
Com movimentos rápidos e precisos nos despimos, um ajudando o outro, e nos abraçamos, nos envolvendo num momento ardente e íntimo, uma atmosfera de prazer e desejo tomando conta do ambiente.
Nossos beijos e carícias nos provocavam arrepios e delírios mútuos, estávamos tão conectados, tão envolvidos, tão em sincronia, que parecia que éramos um só e que estávamos num universo a parte do resto do mundo.
~*~*~
- Tá na hora de acordar, Mel Adormecida. – ouvi Zac falando ao longe com sua voz meio rouquinha um pouco mais rouca, denunciando que ele acabara de acordar.
- Eu dormi? – perguntei incrédula e sem graça, me sentando e cobrindo meu corpo nu com o lençol.
- Dormimos.. – ele sorriu – Agora temos que nos arrumar porque daqui a pouco a bagunça começa.
- É verdade... Que horas são? – olhei em volta, tentando ver alguma coisa pela janela, mas a mesma estava com a cortina cuidadosamente bem fechada.
- Hm... Deve ser umas cinco horas... cinco e meia, no máximo. Vamos tomar um banho então? – ele se sentou prontamente.
- Ahm... Vamos? – o olhei em dúvida.
Ele me encarou incrédulo como se eu tivesse acabado de xingar a mãe dele do nada.
- Vamos!... Não vamos? Ou você vai ficar porquinha? Oinc!
Eu não acreditei que ele tinha acabado de imitar um PORCO pra mim e cai na gargalhada.
- O que foi? – ele parecia em dúvida se ria ou se chamava um médico pra me internar.
- Você imitou um PORCO pra mim? Sério? – eu continuei rindo, agora da cara de interrogação que ele fazia.
- Ah, colé! Imito bem pra caramba! – ele riu de si mesmo, corando de leve e desviando o olhar, ficando exatamente como a gente fica quando se toca de algo extremamente idiota que acabou de fazer ou falar.
- É imita... – eu não conseguia aparar de rir, apesar de que agora já não gargalhava mais - Mas me chamou de PORCA! – falei indignada.
- Ué, foi você que achou uma coisa do outro mundo eu falar que íamos tomar banho. Caso você não se lembre, hoje é sábado, dia internacional do banho! Até pros porquinhos... – dessa vez ele não emitiu sons de porco, mas fez cara de porquinho.
- Eu não achei “coisa do outro mundo”! Só achei... sei lá! Estranho, eu acho, você falar que vamos tomar banho juntos...
- EU falei isso? – o porquinho levou um choque – Que dia, que não lembro?
- Ué... Acabou de falar! “Vamos tomar um banho” você disse assim que me respondeu que horas eram...
Por um minuto a confusão dele parecia estar passando pra mim, mas eu tinha certeza que ouvira direitinho ele falando essas palavras claramente. Ou eu estava viajando? “Será?”
- Falei que vamos tomar um banho: você o seu, eu o meu. Não falei: “Vamos tomar um banho JUNTOS!”
E aí eu senti mais uma vez aquele desejo enorme de ter o super poder de fazer buracos se abrirem no chão para me sugarem. Fiquei tão sem graça e pasma que só soltei um “Ah!” que eu tenho certeza que não me ajudou em nada, só entregou a vergonha sem fim que eu queria muito disfarçar naquela hora.
- Bem... A não ser que... você queira tomar banho JUNTO comigo. Eu não vou me opor a usa vontade! – ele riu e eu sabia que ele estava me provocando, resolvi provocá-lo também.
- De jeito nenhum! Cada um toma o seu banho sozinho.
Falei o mais segura possível e me levantei enrolada no lençol, o deixando na mão - ou melhor, com as “coisas” na mão – e me dirigi ao banheiro sem olhar pra trás, mas eu tinha certeza que ele tinha ficado na cama com cara de bobo e isso me fez eu me sentir vitoriosa...
- EEII!! – dei um pulo quando senti os braços dele envolvendo minha cintura, me pegando totalmente de surpresa – O que você pensa que está fazendo? – tentei tirar os braços dele, mas cheguei a conclusão de que pra conseguir isso com a mesma facilidade com que ele me prendia, eu teria que começar a malhar.
- Você acha MESMO que me engana? Eu sei que você quer isso tanto quanto eu! – ele tinha um sorriso incrivelmente sexy nos lábios quando falou isso.
Antes que eu pudesse pensar em dar qualquer tipo de resposta que desmentisse essa afirmativa, ele me empurrou pra dentro do box e ligou o chuveiro, despejando um forte jato de água sobre nós, molhando o lençol e tudo.
- Zac, o lençol...
- Depois a gente põe pra secar... – ele tirou o lençol ensopado de dentro do Box e o jogou na pia, depois se juntou a mim no Box.
- Você é louco, sabia? – sorri, jogando meus braços ao redor do seu pescoço e o beijei calorosamente.
- E você disfarça mal pra caramba! – rimos juntos.
“É, acho que você está certo...” admiti pra mim mesma enquanto nos beijávamos “Mas em minha defesa tenho a dizer que ou VOCÊ é quem é um ótimo detector de mentiras humano ou simplesmente me conhece melhor do que eu mesma...”